Por que ainda sou católico?
por Fábio Ribas
Não faz muito tempo, um amigo admirou-se com minha afirmação de que eu professava a fé católica. Escreveu-me, então, pedindo explicações, as quais, generosamente, eu compartilhei com ele e agora com você, caro leitor.
Escrevi a ele que minha fé assentava-se sobre os chamados 4 atributos da Igreja. Aliás, estes 4 atributos são compartilhados pela Igrejas Católica Romana, Ortodoxa, Nestoriana, Não Calcedoniana e pelo protestantismo histórico. Os 4 atributos (ou marcas da Igreja) estão expressos pelo Credo Niceno-Constantinopolitano de 381.
Em outras palavras, eu creio na Igreja una, santa, católica e apostólica. Todavia, seria muita ingenuidade imaginar que, passados tantos séculos da instituição do Credo, essas 4 palavras, marcas, atributos, ainda conteriam os mesmos conteúdos daquela época ou expressariam um mesmo conteúdo para tantas confissões diferentes.
A unidade da Igreja Cristã deve ser compreendida sob o aspecto já apresentado no Antigo Testamento sobre a unidade de Israel, o povo de Deus. Nem todo que participa da nação de Israel, nem todo que é circuncidado, nem todo que descende de Abraão é de fato israelita. Deus sempre trabalhou com outro critério: o toco, o resto, o remanescente fiel, a circuncisão do coração que, muitas vezes, passa despercebida dos eventos megalomaníacos de muitas denominações.
Nos anos que antecederam a Reforma Protestante, a ideia da unidade da Igreja também era algo impossível de se aceitar: o cisma da Igreja Ortodoxa e os três papados simultâneos são apenas dois exemplos que mostram a que ponto havia chegado a situação.
A doutrina da predestinação foi pregada por Wycliffe (1320-1384) diante de uma Igreja visivelmente despedaçada. Evidentemente, diante do caos da Igreja, a unidade jamais poderia ser entendida como algo visível e institucional. Por isso, pregou John Huss (1369-1415), reverberando na Boêmia os ensinos de Wycliffe:
“A unidade da Igreja Católica reside no vínculo da predestinação, visto que cada um de seus membros está unido ao outro pela predestinação, e na meta da bênção, visto que todos os seus filhos estão, no fundo, unidos em bênção” .
Esta unidade, que não se identifica com o caos que podemos estar assistindo hoje nisso que aí se apresenta como “Igreja de Jesus”, ensina que a verdadeira Igreja não pode ser confundida com a Cristandade. Então, é no meio do que se vê nas denominações, nas instituições e na própria Cristandade espalhada por sobre a terra que podemos encontrar o toco, o resto, o remanescente fiel.
Ou, citando novamente os pré-Reformadores, diante da corrupção moral e espiritual da Igreja, era óbvio que não importava sua filiação à igreja institucional e nem ter um cargo nessa instituição, ou mesmo as alegações de “milagres” que justificariam a instituição, nada disso garantiria que você fizesse parte da igreja invisível.
O que homens como Wycliffe e Huss nos alertam até nos dias atuais é que você pode estar na igreja sem ser da igreja! Se a unidade não depende da igreja visível, tão pouco a santidade e a catolicidade. A igreja são os predestinados eleitos de Deus em Cristo Jesus, relembrou Wycliffe. A verdadeira Igreja nunca foi todo o povo visível, mas os eleitos de Deus, assim como nem todo descendente de Abraão era israelita de fato.
O que os pré-Reformadores relembraram é que esta Igreja Santa é separada não apenas dentre todos os povos, línguas e nações, mas de dentro também da própria Igreja Católica Romana de seu tempo. Hoje em dia, a doutrina da predestinação nos ensina que os santos são aqueles que foram escolhidos de dentro dos nossos templos e jamais porque fazem parte de nossas denominações.
Eis a natureza real do ensino do nosso catolicismo. O nosso catolicismo é universal não apenas porque é feito da união dos eleitos espalhados por sobre toda a terra, mas, os eleitos de todos os tempos! Por isto a verdadeira Igreja do Senhor é invisível.
Mas essa invisibilidade não é um sinônimo de falta de obras, de boas obras. Ao contrário, ela se faz sentir quando os verdadeiros crentes, os eleitos do Senhor, reagem a tudo aquilo que é contra o Evangelho. Os eleitos do Senhor, regenerados na cruz de Cristo, reagem à corrupção, à imoralidade, a todo tipo de pecado da Cristandade que insiste em macular, manchar a Verdadeira Igreja de Cristo.
Enfim, minha fé é católica porque ela se assenta no ensino dos Apóstolos Pedro e Paulo e de todos aqueles escolhidos por Jesus como testemunhas de tudo o que viram, aprenderam e viveram no dia a dia com o Mestre.
Homens como Wycliffe e John Huss não trouxeram nada de novo; não apresentram doutrinas estranhas e nem outra fonte de autoridade que não fosse a Bíblia. Eram conservadores na melhor acepção do termo: eles foram católicos que queriam mudanças, reformas, cujas bases, porém, estivessem amarradas, tão somente, às Escrituras Sagradas.
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