4.4 ZOHAR, LITERATURA RABÍNICA POSTERIOR E MIKRAOT GUEDOLOT –
RASHI
Zohar, em hebraico significa "esplendor" e é um dos trabalhos mais importantes do
misticismo judaico - A cabalá. O Zohar ficou conhecido na Espanha, no século XIII,
quando foi publicado pelo rabino Moisés de León. De León atribuiu ao Livro do
Zohar a edição de textos e tradições transmitidas e compiladas de geração em
geração sobre os conhecimentos místicos do Tana Rabi Shimon bar Yochai do
século II da era comum. Na Mishná e na Guemará (Talmude) encontram-se relatos
sobre o Rabi Shimon Bar Iohai, que o mesmo está enterrado em Meron, localidade
próxima a cidade de Safed, na Galileia.
O Talmude relata que o Rabi Shimon Bar Iohai foi perseguido pelos romanos
e ficou durante 12 anos escondido em uma caverna, estudando com seu filho
Eleazar. Durante este tempo de reclusão, o Zohar foi escrito, com a ajuda do Profeta
Eliahu talvez permanecendo oculto durante muitos séculos. Foi publicado no século
XIII, por Moshe de León. Quando saiu da caverna, Rabi Shimon olhava para os
campos agrícolas e estes queimavam: ele não entendia porque a humanidade
trabalha a natureza, se ele vivera na caverna só estudando a Torá, usando uma só
muda de roupa, dispondo de uma fonte de água e uma árvore, que surgiram
milagrosamente. Então uma voz celestial mandou-o continuar recluso na caverna
por mais um ano. Quando ele saiu novamente entendeu que a natureza era usada
pelas pessoas para cumprir o sétimo dia judaico e outros preceitos divinos e, então,
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ele estava pronto para transmitir os segredos místicos que só foram publicados onze
séculos depois.
A quantidade de obras de exegese e literatura rabínica cresce de geração em
geração, abordando os mais variados tópicos. A cada nova geração, sente-se a
influência do ambiente em que seus autores se encontram acrescentando para a
humanidade novas interpretações decorrentes de uma antiga corrente literária. A
literatura dos movimentos judaicos ortodoxos como chabad e satmer, ou de
movimentos judaicos unidos globalmente devido a uma origem geográfica em
comum, os judeus das comunidades judaicas sírias libanesas, nos mais diversos
países são exemplos dessa variedade.
A literatura de quaisquer movimentos judaicos fiéis à doutrina judaica (e não
ao cristianismo ou ao Evangelho) pode ser denominada como literatura rabínica. A
literatura rabínica contribui para o entendimento da Bíblia Hebraica e pode ser útil
em análises sobre o desenvolvimento do Evangelho.
Nas edições de Mikraot Guedolot que surgiram a partir da sua publicação na
cidade de Vilna, na Lituânia (século XIX) por Barukh Ben Yosef e seu filho Menahem
Romm, o texto bíblico aparece em letras maiores e em negrito e, ao lado do texto
bíblico, encontra-se a coluna com a tradução de Onkelus para o aramaico.
Há discussões acerca da data de tradução de Onkelus, se foi elaborada por
volta de 60 anos antes da era comum ou somente no segundo século da era
comum. As compilações mais antigas dessas traduções encontradas datam o sexto
século da era comum. A tradução de Jonathan Ben Uziel e a tradução de
Yerushalmi, ambas para o aramaico, também são encontradas nesta publicação. A
primeira foi elaborada provavelmente nos anos 30 antes da era comum.
Abaixo do texto bíblico encontram-se os comentários de diversos exegetas
rabínicos, divididos em pequenas áreas separadas para cada um. Cada
republicação de Mikraot Guedolot tende a repaginar os comentários exegéticos com
o objetivo de facilitar a leitura, inclusive trocando as letras do hebraico medieval
manuscritas pelos exegetas pelas letras quadráticas hebraicas impressas modernas.
Os comentários de cada um dos exegetas seguem a sequência das palavras
constantes nos versículos do texto bíblico.
Alguns dos exegetas rabínicos mais encontrados em edições recentes de
Mikraot Guedolot são: 1) RASHI (Rabi Shelomo Its'haki); 2) RAMBAN (Nahmanides);
3) Avraham IBN EZRA; 4) OR HAHAIM (Haim Ibn Atar); 5) RADA"K (David Kimhi); 6)
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RALBAG (Levi Ben Gershon); 7) RASHBAM (Samuel Ben Meir que é neto do Rashi);
8) SFORNO (Ovadia Ben Yaacov Sforno); 9) SIFTEI HAHAMIM (Shabethai Bass);
10) BA'AL HATURIM (Yaacov Ben Asher); 11) KLI IAKAR (Shlomo Efraim
Luntschitz); 12) EMER NEKA (Ovadia de Bertinoro); 13) Don Isaac ABRABANEL; 14)
IOSEF KARA; 15) AVI EZER; 16) Pirush Al Targum Yonathan; 17) Daat Zekenim
MeBaalei HaTosafot; 18) Metsudat David; 19) Metsudat Tsion; 20) Malbin; 21) Toldot
Aharon.entre outros ,
O comentário do exegeta Rashi (Rabino Shelomo Its'haki) tem o objetivo de
explicar literalmente as palavras e versículos, analisando, por exemplo, o uso de
uma mesma palavra em diferentes contextos bíblicos hebraicos, ilustrando seus
comentários principalmente com explicações do Midrash. O estudo dos comentários
de Rashi é um grande auxílio para os iniciantes em estudos bíblicos hebraicos.
Quando se estuda o texto bíblico com Rashi deve-se analisar sob a ótica da
pergunta "o que Rashi quis dizer?". Já os comentários do exegeta Ramban (Rabino
Moisés Nahmanides) são significados místicos e doutrinários dos contextos bíblicos.
Ao estudar o texto bíblico com o comentário de Ramban deve-se analisar "em que o
Ramban discorda de Rashi."?
O comentário de Ibn Ezra é uma análise da estrutura, da história e dos
significados do texto bíblico hebraico que podem ser melhor entendidas por quem já
tem certo conhecimento do hebraico bíblico. O exegeta Or HaHaim (Haim
Abenathar) escreve como introdução ao seu comentário exegético, no prefácio das
edições de Mikraot Guedolot, que o objetivo dele não é discordar dos outros
exegetas, e sim acrescentar suas interpretações bíblicas hebraicas repletas de
misticismo ao conhecimento público. Outros exegetas rabínicos famosos posteriores
são Seforno (Ovadia Ben Jacob Seforno) e Kli Iakar (Shlomo Ephraim ben Aaron
Luntschitz).
5 .CONCLUSÕES
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