1. A Bíblia é um conjunto de livros (biblioteca), escritos por inspiração de Deus, através dos quais Deus Se revela a Si mesmo e nos revela o Seu projecto de amor e salvação acerca do homem e da humanidade. É um documento histórico e um livro de fé. «Bíblia» deriva do grego biblos («livros»); no latim ta biblia passa a significar a Bíblia (Escritura, Sagradas Escrituras, etc). Não é um livro fácil, não caiu do céu, demorou 1100 anos a ser escrita. Nela consta a história de um povo que foi descobrindo a Deus e os cristãos descobrem a Jesus: é como um álbum de fotos familiar.
2. Inspiração, Verdade e Inerrância: Foi escrita por iniciativa divina, Deus inspirou os autores sagrados (hagiógrafos) para escreverem o que desejava ensinar sobre Si e sobre o Seu projecto de salvação; fizeram-no com o “suor da sua fronte”, como verdadeiros autores que escreveram com os condicionamentos do seu tempo, mentalidade, língua, etc. A Bíblia é Palavra de Deus na língua dos homens. Ela contém as verdades em ordem à nossa salvação: a Bíblia pode conter erros em outras matérias que não as de fé, como na ciência, moral, história, etc.; não é um tratado de moral, retrata o homem real; não é um livro de ciência, nem de história; a Revelação é progressiva, Deus é um Pai paciente, o homem aprende com os erros (que estão na Bíblia!). A Escritura é inspirada pelo Espírito Santo, em todas as suas partes (cf. Dei Verbum n.º 11).
3. Divisão da Bíblia e canonicidade: Biblioteca de 73 livros, que têm em comum a fé: 46 do Antigo Testamento (conta a história de um povo, antes de Cristo) e 27 do Novo Testamento (redigido após a morte de Jesus, sobre Jesus e as primeiras comunidades cristãs); «Testamento» significa «aliança»: Aliança entre Deus e os homens com Abraão (Antiga Aliança) e que atinge a plenitude em Jesus Cristo (Nova Aliança): Ele é o centro da Aliança. O catálogo completo dos escritos inspirados é o cânon («norma»), definido definitivamente em Trento (séc. XVI) pela Tradição da Igreja, tendo em conta: a origem apostólica dos livros, a consonância com o anúncio de Jesus e o seu uso generalizado. Livros protocanónicos: aqueles cuja canonicidade não se colocou em causa, escritos em hebraico e aramaico; deuterocanónicos: os que se colocaram em dúvida, mas que acabaram por entrar para o cânone (não têm importância inferior à dos outros, mas entraram num segundo momento): os escritos em grego no AT: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Baruc, Sabedoria, Eclesiástico, partes de Ester (Est 10, 4-16, 24) e Daniel (Dan 3, 24-90; 13-14); e no NT: Hebreus, Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 e 3 João, Apocalipse e Marcos 16, 9-20 e Jo 7, 53-8,11; apócrifos: não foram aceites, nunca foram lidos publicamente nas igrejas (ex: Evangelho de Judas). Os protestantes chamam aos protocanónicos de canónicos, aos deuterocanónicos de apócrifos e aos apócrifos, de pseudo-epígrafos (falsamente atribuídos a um autor). Há vários cânones: o judaico (aceita só os livros protocanónicos do AT); o ortodoxo (aceita todos os livros, mas não tem decisão «oficial»); o protestante (só os protocanónicos do AT e todo o NT); o católico (aceita os protocanónicos e deuterocanónicos). O judaico foi fixado no séc. I; o cânone do AT para os católicos já está fixado no séc. III a.C., na Versão grega dos LXX e o do NT está fixado no séc. IV. O cânone dos protestantes é diferente do católico, no AT: 39 livros (protestantes) e 46 livros (católicos); as raízes da diferença prendem-se com os dois cânones: o judaico-palestinense (breve), 24 livros (equivalente aos 39 protocanónicos), escritos em hebraico; e o judaico-alexandrino, dos judeus da Diáspora, com partes em grego: os deuterocanónicos; na Reforma, os protestantes eliminaram os deuterocanónicos e seguem o cânone judaico-palestinense. As Bíblias católicas têm 73 livros e as protestantes 66: não são todas iguais! Bíblia hebraica (Tanak, formada pelas primeiras letras da Lei (Tora), Profetas (Nebiim) e Escritos (Ketubim); no AT as Bíblias cristãs dividem-se em: Pentateuco, Livros históricos, sapienciais e didácticos.
Os títulos dos livros foram dados depois, há livros que têm vários nomes; a Bíblia tem introduções, notas de rodapé e notas paralelas (passagens semelhantes noutros livros), perícopes (títulos que ajudam a definir o que se vai ler) que ajudam a entender; Deus é o autor principal, tendo vários autores humanos: para os semitas, não havia direitos de autor. Os livros não estão colocados na Bíblia por ordem cronológica, mas por outros critérios (por tamanho – ex. as Cartas de Paulo; por temas, etc). O primeiro livro do AT a ser escrito foi no reinado de Salomão, (+- 950 a.C.), I Samuel e o último foi o da Sabedoria; no NT o primeiro foi a 1 Tess. e o último o Apocalipse.
Classificações dos livros: 1.º conjunto – Livros históricos e narrativos do AT: o Pentateuco (primeiros cinco livros da Bíblia - Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio: história de Israel desde Abraão à conquista da Terra Prometida); Josué, Juízes, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crónicas; Esdras e Neemias; Macabeus; Rute, Tobias, Judite e Ester. 2.º – Livros didácticos, poéticos e sapienciais do AT: recolhem a sabedoria do povo e o seu espírito de oração: Job, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico. 3.º – livros proféticos do AT: os profetas falam em nome de Deus e denunciam as injustiças; Amós, Oseias, Isaías, Miqueias, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ezequiel, Abdias, Ageu, Zacarias, Malaquias, Joel, Jonas, Baruc, Daniel. Os maiores (ocupam maior extensão dos seus escritos na Bíblia) são: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel; os outros são os menores. 4.º - Livros Históricos do NT: Evangelhos (segundo S. Mateus, S. Marcos, S. Lucas e S. João) e Actos dos Apóstolos. A ordem canónica dos evangelhos não é igual à histórica (o primeiro a ser escrito foi o de Marcos). Os Evangelhos Sinópticos são os que se podem colocar lado a lado e são muito semelhantes: Marcos, Mateus e Lucas. 5.º- Livros didácticos do NT: As Cartas Paulinas (13 cartas), a Carta aos Hebreus, as Cartas Católicas (S. Tiago, S. Judas, duas de S. Pedro e três de S. João): 21 cartas. 6.º - Livros proféticos do NT: O Apocalipse.
As divisões em capítulos e versículos é posterior, não faz parte da Bíblia: a divisão em capítulos no séc. XIII por Étienne Langton; a divisão actual em versículos é obra de Robert Estienne, no séc. XVI, que aproveitou algum trabalho elaborado por Santos Pagnino; a divisão é por vezes um pouco arbitrária. Cada livro tem uma abreviatura, que se encontra nas bíblias; as abreviaturas têm vindo a simplificar-se. Para indicar uma referência bíblica: primeiro a abreviatura; depois o capítulo e o versículo, separados por vírgula; o hífen une vários capítulos ou versículos (desde… até…); ponto e vírgula separam duas referências diferentes; o ponto separa dois versículos diferentes do mesmo capítulo; o s acrescentado a um número significa «o seguinte e dois s significa «os seguintes». Por exemplo: Gn 2, 3; Ex 4, 5-7.9s - ler Livro de Génesis capítulo 2, versículo 3; e também o Livro do êxodo capítulo 4, versículos 5 a 7 e o 9 (mas não o 8) e o seguinte (10).
4. Os Géneros literários: A mensagem da salvação de que a Bíblia é porta-voz, é expressa nos textos de várias formas: «géneros literários», tendo cada um uma função diferente (informar, envolver as pessoas, estabelecer a ordem, etc.). Podemos dividi-los em dois grupos: textos em forma poética (os poemas de amor, como o Cântico dos Cânticos, bênçãos, cânticos de acção de graças, súplicas, lamentações, hinos de louvor e os oráculos proféticos); textos em forma de prosa (documentos de carácter histórico, por exemplo, crónicas, evangelhos, etc.), cartas (por ex. as de Paulo), relatos de milagres, narrações míticas, sagas, etc. Não atender ao género literário de um texto bíblico é um erro crasso: é pôr o texto a dizer o que não diz! Você lê um poema da mesma maneira que lê uma notícia de jornal?
5. As línguas da Bíblia, manuscritos e traduções: A Bíblia foi escrita por diversos autores e em línguas diferentes, conforme a língua falada pelo povo ao qual Deus Se dirigia mais imediatamente. São três as línguas em que a Bíblia foi escrita: o hebraico, o aramaico e o grego comum (koiné). O AT foi quase todo escrito em hebraico, alguns capítulos em aramaico (Esd 4, 6-7.18; Dan 2, 4-7.28) e vários livros em grego (Sab e 2 Mac); os restantes deuterocanónicos parecem ser uma tradução grega de um original hebraico. Os do NT estão em grego comum, embora apareçam por vezes traduções do aramaico (crê-se que o Evangelho de São Mateus teria sido escrito primeiro em aramaico, pelo menos algumas partes). Os textos originais da Bíblia reflectem três horizontes culturais diferentes: o hebraico, na liturgia; o aramaico, a língua do povo (inclusive de Jesus) e o grego, a língua internacional. Os originais do texto bíblico estão perdidos, só restam cópias; possuímos códices: maiúsculos, em pergaminho, como o sinaítico, o vaticanus, alexandrino, etc.; papiros menores; o codex (livro) é mais adoptado pelos cristãos e o rolo pelos judeus; as descobertas de Qumram (desde 1947) permitiram descobrir manuscritos do séc. II a.C., dos quais foram feitas traduções: a Versão dos Setenta (LXX), grega, (250 a.C.) (segundo a lenda teriam sido 70 tradutores que a trabalharam separadamente e chegaram à mesma tradução); a Vulgata, de São Jerónimo (384), dela derivam os livros litúrgicos. No séc. XVII, o protestante João Ferreira de Almeida traduz a primeira bíblia para português. Algumas traduções actuais católicas em português: a Bíblia de Jerusalém (do francês para português do Brasil); a Bíblia Sagrada (da Difusora Bíblica, Capuchinhos); a Bíblia Sagrada (da Paulus), etc. A Bíblia em português corrente, inter-confessional, agrupa os deuterocanónicos entre o AT e o NT. A Bíblia das Testemunhas de Jeová traduz mal certas passagens (Tradução do Novo Mundo das Sagradas Escrituras) (ex., do Bom Ladrão, Lc 23, 43 e a da Instituição da Eucaristia, Lc 22, 19). As T.J. não conhecem a progressão da revelação, levam à letra muitas passagens, tiram frases do contexto. Dizem que as «bíblias são todas iguais», o que não é verdade; «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos», promessa de Cristo: se as T.J. nasceram em 1852 (fundador: Charles Russell), onde estava Cristo até aí? Ele não mentiu! As T.J. incidem o discurso sobre o «fim deste sistema iníquo de coisas», deixam de lado assuntos importantes como a caridade, o «ser fermento na massa», a construção do Reino de Deus já neste mundo; marcaram muitas vezes o fim do mundo (falhando!): 1914, 1925, 1975, 1986, 2000; dizem que apenas 144.000 vão para o céu, interpretando mal o n.º simbólico do Apocalipse e os restantes terão de se contentar com um paraíso na terra («Deixai vir a Mim as criancinhas porque delas é o Reino dos Céus»: já não cabem lá todas?); negam a plena divindade de Cristo, como Salvador, para eles é uma criatura, mas Cristo disse: «Eu e o Pai somos um»; acham que a alma é mortal, não celebram o Natal, o Dia do Pai, Jesus morreu numa estaca, etc.
6. Interpretação, Crítica e a leitura da Bíblia: A interpretação e a Crítica bíblica. A Bíblia é difícil de compreender, é necessário sintonizar-se com a sabedoria do Espírito e dos homens; para isso, os exegetas (estudiosos da Bíblia) levam a cabo estudos: diacrónicos (explicam o texto sagrado através da sua formação, utilizando o método histórico-crítico) e sincrónicos (estudam o texto como tal, nas suas estruturas, contando com o auxílio de outras ciências, como a arqueologia). A leitura de um texto: A Bíblia não é um livro fácil; para evitar colocar o texto bíblico a dizer aquilo que não quer dizer, deve-se seguir alguns princípios: escolher uma boa Tradução da Bíblia Católica em português (como a da Difusora Bíblia, “Bíblia dos Capuchinhos”); as protestantes também podem ser lidas, mas não têm introduções, nem notas explicativas e faltam livros (os deuterocanónicos do AT), e a autorização eclesiástica (imprimatur); rejeite a Bíblia das T.J.; não leia ao pé da letra! Muitas coisas são simbólicas (por ex. os nºs: 666 é o nº da Besta do Apocalipse, mas significa que não chega ao 7, n.º da perfeição e é 3 vezes imperfeita; 144.000 é 12 tribos de Israel x 12 x 1000, impossível de contar, etc.), ler literalmente leva pessoas à morte por rejeitarem transfusões de sangue, por ex., quando a intenção era travar a idolatria nos tempos mais recuados! Ter em conta os géneros literários (ler um jornal não é igual a ler poesia!), saber o que o autor quis dizer e não aquilo que parece. Ter em conta o contexto: histórico em que foi escrito o livro (a mentalidade semítica é diferente da nossa, etc.), no contexto do capítulo e de toda a Bíblia (isolar frases pode dar origem a se dizer «Deus não existe»! (Sl 9, 25)); no contexto do estádio da Revelação: o NT é mais avançado do que o AT; no contexto eclesial, lida em Igreja, na liturgia; no contexto dos estudos dos exegetas, dos documentos da Igreja e das notas explicativas; A leitura de fé: Assim estaremos preparados para iniciar a leitura e abrirmo-nos a uma leitura de fé. A Bíblia foi escrita por homens de fé para homens de fé, o seu destinatário é a comunidade de crentes e só o crente consegue alcançar o seu sentido espiritual; para ele o que lê é algo que lhe diz respeito hoje, na sua vida. Não lê para saber, mas para viver. O objectivo é o encontro com Deus, em atitude de escuta, de fé, de oração; Deus não se limita à Bíblia, está na comunidade dos crentes, na Palavra de Deus na Liturgia, na natureza, nos acontecimentos do dia-a-dia: Ele está, temos é de O ouvir!
7. Bibliografia recomendada: - Bíblia Sagrada, Difusora Bíblica; Catecismo da Igreja Católica. Gráfica de Coimbra; - Concílio ecuménico Vaticano II. Documentos conciliares. Gráfica de Coimbra; A Interpretação da Bíblia na Igreja, Comissão Pontifícia Bíblica; ABC para ler a Bíblia. Pequeno Guia introdutório., Giacomo Perego, Paulus; Atlas bíblico. J. Machado Lopes, Difusora Bíblica; A Bíblia História, Textos e Interpretações. André Paul, Gráfica de Coimbra; Porque sou cristão? Editorial Perpétuo Socorro, Américo Veiga; Cadernos bíblicos: nº 26 – Um primeiro contacto com a Bíblia, vários; nº 3 – Para uma primeira leitura da Bíblia, Etiene Charpentier, Difusora Bíblica; Pinto, António Vaz, S.I. - Revelação e Fé. Fundamento e conteúdo da fé cristã para o homem de hoje. Editorial A.O. Vol. II; As Testemunhas de Jeová confrontadas com a verdadeira Bíblia. Giuseppe Crocetti, Edições Paulistas; A Bíblia responde às testemunhas de Jeová, Salvador Cabral; Trinta anos escravizado à Torre de Vigia. Cidade do Imaculado Coração de Maria.
2. Inspiração, Verdade e Inerrância: Foi escrita por iniciativa divina, Deus inspirou os autores sagrados (hagiógrafos) para escreverem o que desejava ensinar sobre Si e sobre o Seu projecto de salvação; fizeram-no com o “suor da sua fronte”, como verdadeiros autores que escreveram com os condicionamentos do seu tempo, mentalidade, língua, etc. A Bíblia é Palavra de Deus na língua dos homens. Ela contém as verdades em ordem à nossa salvação: a Bíblia pode conter erros em outras matérias que não as de fé, como na ciência, moral, história, etc.; não é um tratado de moral, retrata o homem real; não é um livro de ciência, nem de história; a Revelação é progressiva, Deus é um Pai paciente, o homem aprende com os erros (que estão na Bíblia!). A Escritura é inspirada pelo Espírito Santo, em todas as suas partes (cf. Dei Verbum n.º 11).
3. Divisão da Bíblia e canonicidade: Biblioteca de 73 livros, que têm em comum a fé: 46 do Antigo Testamento (conta a história de um povo, antes de Cristo) e 27 do Novo Testamento (redigido após a morte de Jesus, sobre Jesus e as primeiras comunidades cristãs); «Testamento» significa «aliança»: Aliança entre Deus e os homens com Abraão (Antiga Aliança) e que atinge a plenitude em Jesus Cristo (Nova Aliança): Ele é o centro da Aliança. O catálogo completo dos escritos inspirados é o cânon («norma»), definido definitivamente em Trento (séc. XVI) pela Tradição da Igreja, tendo em conta: a origem apostólica dos livros, a consonância com o anúncio de Jesus e o seu uso generalizado. Livros protocanónicos: aqueles cuja canonicidade não se colocou em causa, escritos em hebraico e aramaico; deuterocanónicos: os que se colocaram em dúvida, mas que acabaram por entrar para o cânone (não têm importância inferior à dos outros, mas entraram num segundo momento): os escritos em grego no AT: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Baruc, Sabedoria, Eclesiástico, partes de Ester (Est 10, 4-16, 24) e Daniel (Dan 3, 24-90; 13-14); e no NT: Hebreus, Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 e 3 João, Apocalipse e Marcos 16, 9-20 e Jo 7, 53-8,11; apócrifos: não foram aceites, nunca foram lidos publicamente nas igrejas (ex: Evangelho de Judas). Os protestantes chamam aos protocanónicos de canónicos, aos deuterocanónicos de apócrifos e aos apócrifos, de pseudo-epígrafos (falsamente atribuídos a um autor). Há vários cânones: o judaico (aceita só os livros protocanónicos do AT); o ortodoxo (aceita todos os livros, mas não tem decisão «oficial»); o protestante (só os protocanónicos do AT e todo o NT); o católico (aceita os protocanónicos e deuterocanónicos). O judaico foi fixado no séc. I; o cânone do AT para os católicos já está fixado no séc. III a.C., na Versão grega dos LXX e o do NT está fixado no séc. IV. O cânone dos protestantes é diferente do católico, no AT: 39 livros (protestantes) e 46 livros (católicos); as raízes da diferença prendem-se com os dois cânones: o judaico-palestinense (breve), 24 livros (equivalente aos 39 protocanónicos), escritos em hebraico; e o judaico-alexandrino, dos judeus da Diáspora, com partes em grego: os deuterocanónicos; na Reforma, os protestantes eliminaram os deuterocanónicos e seguem o cânone judaico-palestinense. As Bíblias católicas têm 73 livros e as protestantes 66: não são todas iguais! Bíblia hebraica (Tanak, formada pelas primeiras letras da Lei (Tora), Profetas (Nebiim) e Escritos (Ketubim); no AT as Bíblias cristãs dividem-se em: Pentateuco, Livros históricos, sapienciais e didácticos.
Os títulos dos livros foram dados depois, há livros que têm vários nomes; a Bíblia tem introduções, notas de rodapé e notas paralelas (passagens semelhantes noutros livros), perícopes (títulos que ajudam a definir o que se vai ler) que ajudam a entender; Deus é o autor principal, tendo vários autores humanos: para os semitas, não havia direitos de autor. Os livros não estão colocados na Bíblia por ordem cronológica, mas por outros critérios (por tamanho – ex. as Cartas de Paulo; por temas, etc). O primeiro livro do AT a ser escrito foi no reinado de Salomão, (+- 950 a.C.), I Samuel e o último foi o da Sabedoria; no NT o primeiro foi a 1 Tess. e o último o Apocalipse.
Classificações dos livros: 1.º conjunto – Livros históricos e narrativos do AT: o Pentateuco (primeiros cinco livros da Bíblia - Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio: história de Israel desde Abraão à conquista da Terra Prometida); Josué, Juízes, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crónicas; Esdras e Neemias; Macabeus; Rute, Tobias, Judite e Ester. 2.º – Livros didácticos, poéticos e sapienciais do AT: recolhem a sabedoria do povo e o seu espírito de oração: Job, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico. 3.º – livros proféticos do AT: os profetas falam em nome de Deus e denunciam as injustiças; Amós, Oseias, Isaías, Miqueias, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ezequiel, Abdias, Ageu, Zacarias, Malaquias, Joel, Jonas, Baruc, Daniel. Os maiores (ocupam maior extensão dos seus escritos na Bíblia) são: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel; os outros são os menores. 4.º - Livros Históricos do NT: Evangelhos (segundo S. Mateus, S. Marcos, S. Lucas e S. João) e Actos dos Apóstolos. A ordem canónica dos evangelhos não é igual à histórica (o primeiro a ser escrito foi o de Marcos). Os Evangelhos Sinópticos são os que se podem colocar lado a lado e são muito semelhantes: Marcos, Mateus e Lucas. 5.º- Livros didácticos do NT: As Cartas Paulinas (13 cartas), a Carta aos Hebreus, as Cartas Católicas (S. Tiago, S. Judas, duas de S. Pedro e três de S. João): 21 cartas. 6.º - Livros proféticos do NT: O Apocalipse.
As divisões em capítulos e versículos é posterior, não faz parte da Bíblia: a divisão em capítulos no séc. XIII por Étienne Langton; a divisão actual em versículos é obra de Robert Estienne, no séc. XVI, que aproveitou algum trabalho elaborado por Santos Pagnino; a divisão é por vezes um pouco arbitrária. Cada livro tem uma abreviatura, que se encontra nas bíblias; as abreviaturas têm vindo a simplificar-se. Para indicar uma referência bíblica: primeiro a abreviatura; depois o capítulo e o versículo, separados por vírgula; o hífen une vários capítulos ou versículos (desde… até…); ponto e vírgula separam duas referências diferentes; o ponto separa dois versículos diferentes do mesmo capítulo; o s acrescentado a um número significa «o seguinte e dois s significa «os seguintes». Por exemplo: Gn 2, 3; Ex 4, 5-7.9s - ler Livro de Génesis capítulo 2, versículo 3; e também o Livro do êxodo capítulo 4, versículos 5 a 7 e o 9 (mas não o 8) e o seguinte (10).
4. Os Géneros literários: A mensagem da salvação de que a Bíblia é porta-voz, é expressa nos textos de várias formas: «géneros literários», tendo cada um uma função diferente (informar, envolver as pessoas, estabelecer a ordem, etc.). Podemos dividi-los em dois grupos: textos em forma poética (os poemas de amor, como o Cântico dos Cânticos, bênçãos, cânticos de acção de graças, súplicas, lamentações, hinos de louvor e os oráculos proféticos); textos em forma de prosa (documentos de carácter histórico, por exemplo, crónicas, evangelhos, etc.), cartas (por ex. as de Paulo), relatos de milagres, narrações míticas, sagas, etc. Não atender ao género literário de um texto bíblico é um erro crasso: é pôr o texto a dizer o que não diz! Você lê um poema da mesma maneira que lê uma notícia de jornal?
5. As línguas da Bíblia, manuscritos e traduções: A Bíblia foi escrita por diversos autores e em línguas diferentes, conforme a língua falada pelo povo ao qual Deus Se dirigia mais imediatamente. São três as línguas em que a Bíblia foi escrita: o hebraico, o aramaico e o grego comum (koiné). O AT foi quase todo escrito em hebraico, alguns capítulos em aramaico (Esd 4, 6-7.18; Dan 2, 4-7.28) e vários livros em grego (Sab e 2 Mac); os restantes deuterocanónicos parecem ser uma tradução grega de um original hebraico. Os do NT estão em grego comum, embora apareçam por vezes traduções do aramaico (crê-se que o Evangelho de São Mateus teria sido escrito primeiro em aramaico, pelo menos algumas partes). Os textos originais da Bíblia reflectem três horizontes culturais diferentes: o hebraico, na liturgia; o aramaico, a língua do povo (inclusive de Jesus) e o grego, a língua internacional. Os originais do texto bíblico estão perdidos, só restam cópias; possuímos códices: maiúsculos, em pergaminho, como o sinaítico, o vaticanus, alexandrino, etc.; papiros menores; o codex (livro) é mais adoptado pelos cristãos e o rolo pelos judeus; as descobertas de Qumram (desde 1947) permitiram descobrir manuscritos do séc. II a.C., dos quais foram feitas traduções: a Versão dos Setenta (LXX), grega, (250 a.C.) (segundo a lenda teriam sido 70 tradutores que a trabalharam separadamente e chegaram à mesma tradução); a Vulgata, de São Jerónimo (384), dela derivam os livros litúrgicos. No séc. XVII, o protestante João Ferreira de Almeida traduz a primeira bíblia para português. Algumas traduções actuais católicas em português: a Bíblia de Jerusalém (do francês para português do Brasil); a Bíblia Sagrada (da Difusora Bíblica, Capuchinhos); a Bíblia Sagrada (da Paulus), etc. A Bíblia em português corrente, inter-confessional, agrupa os deuterocanónicos entre o AT e o NT. A Bíblia das Testemunhas de Jeová traduz mal certas passagens (Tradução do Novo Mundo das Sagradas Escrituras) (ex., do Bom Ladrão, Lc 23, 43 e a da Instituição da Eucaristia, Lc 22, 19). As T.J. não conhecem a progressão da revelação, levam à letra muitas passagens, tiram frases do contexto. Dizem que as «bíblias são todas iguais», o que não é verdade; «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos», promessa de Cristo: se as T.J. nasceram em 1852 (fundador: Charles Russell), onde estava Cristo até aí? Ele não mentiu! As T.J. incidem o discurso sobre o «fim deste sistema iníquo de coisas», deixam de lado assuntos importantes como a caridade, o «ser fermento na massa», a construção do Reino de Deus já neste mundo; marcaram muitas vezes o fim do mundo (falhando!): 1914, 1925, 1975, 1986, 2000; dizem que apenas 144.000 vão para o céu, interpretando mal o n.º simbólico do Apocalipse e os restantes terão de se contentar com um paraíso na terra («Deixai vir a Mim as criancinhas porque delas é o Reino dos Céus»: já não cabem lá todas?); negam a plena divindade de Cristo, como Salvador, para eles é uma criatura, mas Cristo disse: «Eu e o Pai somos um»; acham que a alma é mortal, não celebram o Natal, o Dia do Pai, Jesus morreu numa estaca, etc.
6. Interpretação, Crítica e a leitura da Bíblia: A interpretação e a Crítica bíblica. A Bíblia é difícil de compreender, é necessário sintonizar-se com a sabedoria do Espírito e dos homens; para isso, os exegetas (estudiosos da Bíblia) levam a cabo estudos: diacrónicos (explicam o texto sagrado através da sua formação, utilizando o método histórico-crítico) e sincrónicos (estudam o texto como tal, nas suas estruturas, contando com o auxílio de outras ciências, como a arqueologia). A leitura de um texto: A Bíblia não é um livro fácil; para evitar colocar o texto bíblico a dizer aquilo que não quer dizer, deve-se seguir alguns princípios: escolher uma boa Tradução da Bíblia Católica em português (como a da Difusora Bíblia, “Bíblia dos Capuchinhos”); as protestantes também podem ser lidas, mas não têm introduções, nem notas explicativas e faltam livros (os deuterocanónicos do AT), e a autorização eclesiástica (imprimatur); rejeite a Bíblia das T.J.; não leia ao pé da letra! Muitas coisas são simbólicas (por ex. os nºs: 666 é o nº da Besta do Apocalipse, mas significa que não chega ao 7, n.º da perfeição e é 3 vezes imperfeita; 144.000 é 12 tribos de Israel x 12 x 1000, impossível de contar, etc.), ler literalmente leva pessoas à morte por rejeitarem transfusões de sangue, por ex., quando a intenção era travar a idolatria nos tempos mais recuados! Ter em conta os géneros literários (ler um jornal não é igual a ler poesia!), saber o que o autor quis dizer e não aquilo que parece. Ter em conta o contexto: histórico em que foi escrito o livro (a mentalidade semítica é diferente da nossa, etc.), no contexto do capítulo e de toda a Bíblia (isolar frases pode dar origem a se dizer «Deus não existe»! (Sl 9, 25)); no contexto do estádio da Revelação: o NT é mais avançado do que o AT; no contexto eclesial, lida em Igreja, na liturgia; no contexto dos estudos dos exegetas, dos documentos da Igreja e das notas explicativas; A leitura de fé: Assim estaremos preparados para iniciar a leitura e abrirmo-nos a uma leitura de fé. A Bíblia foi escrita por homens de fé para homens de fé, o seu destinatário é a comunidade de crentes e só o crente consegue alcançar o seu sentido espiritual; para ele o que lê é algo que lhe diz respeito hoje, na sua vida. Não lê para saber, mas para viver. O objectivo é o encontro com Deus, em atitude de escuta, de fé, de oração; Deus não se limita à Bíblia, está na comunidade dos crentes, na Palavra de Deus na Liturgia, na natureza, nos acontecimentos do dia-a-dia: Ele está, temos é de O ouvir!
7. Bibliografia recomendada: - Bíblia Sagrada, Difusora Bíblica; Catecismo da Igreja Católica. Gráfica de Coimbra; - Concílio ecuménico Vaticano II. Documentos conciliares. Gráfica de Coimbra; A Interpretação da Bíblia na Igreja, Comissão Pontifícia Bíblica; ABC para ler a Bíblia. Pequeno Guia introdutório., Giacomo Perego, Paulus; Atlas bíblico. J. Machado Lopes, Difusora Bíblica; A Bíblia História, Textos e Interpretações. André Paul, Gráfica de Coimbra; Porque sou cristão? Editorial Perpétuo Socorro, Américo Veiga; Cadernos bíblicos: nº 26 – Um primeiro contacto com a Bíblia, vários; nº 3 – Para uma primeira leitura da Bíblia, Etiene Charpentier, Difusora Bíblica; Pinto, António Vaz, S.I. - Revelação e Fé. Fundamento e conteúdo da fé cristã para o homem de hoje. Editorial A.O. Vol. II; As Testemunhas de Jeová confrontadas com a verdadeira Bíblia. Giuseppe Crocetti, Edições Paulistas; A Bíblia responde às testemunhas de Jeová, Salvador Cabral; Trinta anos escravizado à Torre de Vigia. Cidade do Imaculado Coração de Maria.
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