Podemos delinear a natureza de Deus da seguinte maneira: natural e moral; metafísico e físico; imanente e transcendente. É a bipartição de seus atributos em comunicáveis e incomunicáveis. Logicamente, partimos do princípio de que o ser humano não tem capacidade intelectual para compreender a natureza de Deus em sua plenitude, visto que “Deus é Espírito” (Jo 4.24), podemos e conseguimos conhecer somente aquilo que a nossa mente alcança. Pois, como afirma o salmista, “Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites?”. Moisés também conhecia perfeitamente as nossas limitações: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém, as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos” (Dt 29.29). Contudo, Deus “implantou” no ser humano algo de si, conforme especifica o livro do princípio “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26). A pergunta é: em que consistiria essa semelhança? Segundo o estudo teontológico, há em Deus a natureza que pode e é compartilhada com o ser humano, aquilo que chamaremos de “atributos comunicáveis”. São qualidades como o amor, a santidade, a justiça, a mansidão, a bondade, etc. É importante, porém, compreender que essas virtudes foram dadas ao ser humano de forma finita, limitada, o que equivale a dizer que ninguém, em vida, será plenamente santo, justo, bom, etc. A nós, humanos e cristãos, resta-nos a responsabilidade de buscar cada vez mais as qualidades comunicáveis de Deus, pois, o próprio Jesus ordenou: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.48). Todavia, jamais podemos nos esquecer que caminhamos para a perfeição em Cristo: “... até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4.13).
Os irmãos literais de Jesus eram, na verdade, seus primos? Em Mateus 12.47, na Bíblia católica, na versão dos Monges Maredsous, o tradutor teceu o seguinte comentário, sobre os “irmãos” de Jesus, no rodapé da página: “Irmãos: na língua hebraica essa palavra pode significar também ‘parentes próximos’ ou ‘primos’, como nesse caso. Exemplo: Abraão, tio de Lot, chama-o com a designação de irmão (Gn 11.27; 13.8)”. A palavra “irmão”, no hebraico, pode significar primo, mas, mesmo em tais casos, temos de ser cautelosos. Geralmente, quando a palavra “irmão” é empregada no sentido de parente próximo, o contexto esclarece a questão: “Os filhos de Merari: Mali, e Musi; os filhos de Mali: Eleazar e Quis. E morreu Eleazar, e não teve filhos, porém filhas; e os filhos de Quis, seus parentes, as tomaram por mulheres” (1Cr 23.21,22). Sem contar que o Novo Testamento foi escrito em grego e não em hebraico. Não devemos nos esquecer de que quando o Novo Testamento faz referências aos irmãos de Jesus, os contextos não trazem nenhum tipo de esclarecimento adicional, como acontece no Antigo Testamento. Além disso, os escritores sabiam a diferença entre os termos “irmão” (adelphós), “primo” (anepsiós) e “parentes” (sunggenes). Mesmo Paulo, que usava muitas metáforas, sabia usar com distinção essas palavras. Tanto é que escreveu sobre os “irmãos” de Jesus sem deixar nenhuma dúvida quanto ao laço carnal entre o Senhor e seus irmãos. Vejamos:
1Coríntios 9.5 Português “Não temos nós direito de levar conosco esposa crente [irmã], como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?” Grego transliterado “mê ouk ekhomen exousian adelphên gunaika periagein ôs kai oi loipoi apostoloi kai oi adelphoi tou kuriou kai kêphas” Septuaginta mh ouk ecomen exousian adelfhn gunaika periagein wV kai oi loipoi apostoloi kai oi adelfoi tou kuriou kai khfaV
Gálatas 1.19 Português “Mas não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” Grego transliterado “eteron de tôn apostolôn ouk eidon ei mê iakôbon ton adelphon tou kuriou” Septuaginta eteron de twn apostolwn ouk eidon ei mh iakwbon ton adelfon tou kuriou
Não havia motivo de confusão. O apóstolo empregava os termos sem problemas: “Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, o primo (anepsiós) de Barnabé...” (Cl 4.10). “Saudai a Herodião, meu parente (sungene)” (Rm 16.11). Caso a tese católica estivesse correta, o apóstolo poderia muito bem ter usado a expressão hoi anepsiós Kyriou (primos do Senhor) e não adelphói tou Kyriou (irmãos do Senhor), até porque os irmãos de Jesus estavam vivos quando o apóstolo escreveu as duas epístolas. Diante do exposto, a única conclusão plausível a que podemos chegar é que os “irmãos” de Jesus eram realmente seus irmãos legítimos, queremos dizer, nascidos do ventre de Maria. Participantes desta edição: Eliseu Camilo Doris Stalschus Marcos Lima Rodolfo Santos Cunha Referências bibliográficas: Bíblia Apologética de Estudo Ampliada. Instituto Cristão de Pesquisas, 2005. ELWEL, Walter A. Enciclopédia histórico e teológica da Igreja Cristã, Vol. II. São Paulo: Editora Vida Nova, 1ª ed., 1990, p. 543. LUND, E & NELSON, C. Hermenêutica. São Paulo: Editora Vida, 1968. GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática.São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
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