Os resultados da análise, publicados hoje em PNAS, podem reescrever a história. Desde 1996, o conjunto funerário de Vergina é Patrimônio da Humanidade da Unesco, em parte por conter a suposta tumba de Filipe 2º. O único detalhe é que em todos esses anos foi mostrada aos turistas a tumba equivocada. Na número 2, propõe a equipe de Arsuaga, encontra-se na realidade Filipe 3º, filho do 2º e meio irmão de Alexandre.
Segundo o estudo, que também é assinado por Antonis Bartsiokas, da Universidade Demócrito da Trácia, e outros três especialistas espanhóis, parte da armadura encontrada aqui pode pertencer a Alexandre, o Grande. Na tumba 3 jaz Alexandre 4º, filho de Alexandre. Seu pai havia morrido em um palácio da Babilônia (hoje Iraque) em 323 a.C., de causas pouco claras. Sua tumba ainda não foi encontrada.
O estudo aviva uma polêmica de décadas. Theodore Antikas, chefe de antropologia das escavações de Vergina, não concorda com os resultados da equipe de Arsuaga. O trabalho, diz ele, "se baseia em provas insuficientes e está longe de resolver o problema", escreveu o especialista da Universidade Aristóteles em uma carta enviada à PNAS e à qual o "El Pais" teve acesso.
Nessa missiva, Antikas revela uma volta inesperada nessa história. Trata-se da existência de duas caixas de madeira cheias de ossos encontradas na tumba 1 em 1977. Foram armazenadas no museu de Vergina e "ninguém reparou nelas" até agora. Suas análises indicam que na tumba 1 não havia três, mas sete indivíduos, incluindo um adolescente, três bebês e um feto não identificado. Poderia tratar-se de restos de saqueadores ou de cadáveres descartados, algo já visto em outras tumbas macedônias, aponta. Além disso, diz, sua equipe espera autorização para realizar análises de DNA sem as quais "qualquer suposição sobre as identidades dos mortos é prematura e pouco fiável". Por enquanto, nenhum desses dados foi devidamente publicado.
Guerreiro até a morte
O historiador Robin Lane Fox, da Universidade de Oxford, especialista nesse período e defensor da teoria da tumba 2, ressalta suas dúvidas sobre a descoberta. Para começar,"um buraco em um joelho não vai provar nada, pois muitos outros poderiam tê-lo em um mundo de guerreiros", explica em um e-mail. Por outro lado, pergunta, como se explica que na tumba de um rei guerreiro não haja uma só arma de ferro, do tipo que "os saqueadores não teriam se incomodado em roubar"? Um terceiro problema, já clássico, é por que os restos da tumba 1 não foram incinerados, uma questão chave, segundo Lane Fox. A equipe de Arsuaga acrescenta que nem sempre se cremavam os personagens ilustres, sobretudo na Macedônia anterior a Alexandre, o Grande.
Maria Liston, antropóloga especialista em rituais funerários na Grécia, quase não tem dúvidas de que esses restos sejam de Filipe 2º. Também salienta que as feridas que o cadáver apresenta não parecem as de qualquer guerreiro. Depois de analisar em detalhe o trabalho, salienta que "a perna teve que ser imobilizada porque a dor deve ter sido horrível", explica. "Foi feito de forma muito cuidadosa e pensada", ressalta. "O ângulo em que o osso colou permitiu que o paciente andasse na ponta do pé com essa perna, e, mais importante, continuasse montando a cavalo, o que Filipe deve ter feito para manter sua posição de guerreiro". Liston acredita que os autores "têm um argumento muito convincente de que este é o esqueleto de Filipe 2º" e que o homem na tumba 2 é realmente seu filho Filipe 3º.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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