expr:class='data:blog.pageType'>

Wikipedia

Resultados da pesquisa

"Obama mostra que acordou para a vida ao firmar acordo nuclear com Irã"

"Obama mostra que acordou para a vida ao firmar acordo nuclear com Irã"


Professor de Relações Internacionais, Reginaldo Nasser fala em 'bom senso' do líder norte-americano ao firmar acordo, mesmo contra a vontade de aliados como Israel e Arábia Saudita

Quando o presidente dos Estados Unidos (EUA), Barack Obama, assinou o acordo nuclear com o Irã, ele deixou de lado a influência de aliados como Israel e a Arábia Saudita e priorizou o bom senso, segundo o professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Reginaldo Nasser.
Para Reginaldo Nasser, acordo nuclear com o Irã deve ser encarado como uma prova de confiança mútua
Reprodução/Facebook
Para Reginaldo Nasser, acordo nuclear com o Irã deve ser encarado como uma prova de confiança mútua
"O que os EUA conseguiram se aliando a Israel e a Arábia Saudita? Críticas e se tornar alvo de terroristas do mundo todo. Esse acordo foi uma demonstração de que Obama finalmente acordou para a vida e tomou uma decisão que não prioriza aliados", analisa. 

"Vamos supor que o acordo não dê certo. Por que o Irã decidiria atacar uma potência que tem um dos maiores exércitos do mundo? O Irã encontrou mecanismos para lidar com as sanções, mas está muito atrasado e sabe que não ganharia nada com ações dessa natureza. Isso está fora de cogitação", avalia.Por meio do acordo, que contou com aprovação das potências mundiais do grupo 5+1 – Rússia, China, Reino Unido, Alemanha e o próprio EUA –, o Irãaceitou limitar sua atividade nuclear em troca da suspensão de sanções econômicas internacionais. Mas nem todos os países viram com bons olhos essa aproximação política. O premiê israelense Benjamin Netanyahu, por exemplo, que considera o país um inimigo mortal, afirmou em julho que esse é um "erro histórico", termo que Nasser diz ser equivocado.
Em conversa com o iG, o mestre em ciências políticas e doutor em ciências sociais analisa o acordo – que prevê a remoção de dois terços das centrífugas instaladas no Irã, o fim de 98% do urânio enriquecido do país e o acesso da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês) "quando e onde for necessário" – e o que muda no mundo a partir desse novo contrato. 
Presidente do Irã, Hassan Rohani, anuncia acordo nuclear em rede nacional (14/07)
AP
Presidente do Irã, Hassan Rohani, anuncia acordo nuclear em rede nacional (14/07)
 Por que os EUA decidiram assinar só agora o acordo nuclear com o Irã?Reginaldo Nasser – Entendo que os EUA assinaram esse acordo principalmente pela situação que está o Oriente Médio com a questão do Estado Islâmico, que tem agido bem perto das fronteiras de aliados como Israel, Jordânia e a Arábia Saudita. A situação é muito instável e o Irã pode ser um país importante e confiável neste momento.
 Nessa lógica, Israel e a Arábia Saudita não deveriam criticar essa medida...Nasser – É que esses países sabem que o apoio dos EUA tornará o Irã mais poderoso na região. A Arábia saudita disputa poder diretamente com o Irã por ali. Mas o Irã não é uma ameaça. Ele aparece como o grande malvado da história por conta de suas vendas de armas para o HamasHezbollah. Mas, na verdade, o Irã age como qualquer outro país. A Arábia Saudita financiou os jihadistas do Estado Islâmico no início da luta armada. Já Israel teme que o Irã invada o país ou acabe com a humanidade com uma bomba nuclear. Mas vamos supor que o acordo com o Irã não dê certo. Por que o país atacaria um dos exércitos mais poderosos do mundo? Quem sairia perdendo nesse embate? O governo de Israel quer fazer do Irã o grande vilão do mundo. É conveniente para Netanyahu ter um Irã mau. Mas os iranianos não têm condições de atacar Turquia, nem Israel, nem qualquer outro Estado. 
 Qual a motivação para esse acordo dos EUA com o Irã nesse momento? Nasser – Os EUA fizeram esse acordo pensando em melhorar sua reputação, entre outras coisas. O que eles ganharam fazendo vista grossa para as ações da Arábia Saudita e de Israel? Isso só trouxe problemas para os EUA. Além de aumentar a rejeição deles na região, aparecem também inúmeros grupos terroristas querendo atacar o país. Agora foi única e exclusivamente questão de bom senso: o Obama [Barack, presidente dos EUA] acordou para a vida até para ver se muda a forma como os outros países veem os EUA. Ele joga o jogo da influência.
Benjamin Netanyahu, premiê de Israel, mostra imagem de um suposto lançador de foguetes do Hamas cercado por crianças na cúpula da ONU em NY (2014)
AP
Benjamin Netanyahu, premiê de Israel, mostra imagem de um suposto lançador de foguetes do Hamas cercado por crianças na cúpula da ONU em NY (2014)
iG – E o que de fato muda na economia do Oriente Médio com o acordo?Nasser – Esse acordo vai fortalecer o Irã. É disso que os outros países têm medo. Politicamente vai trazer muitos benefícios e um avanço enorme para o Irã e para a região, que terá mais uma fonte importante de petróleo e mais relevância. Israel diz que, com mais dinheiro, o país vai aumentar seu poderio militar comprando mais armas e investindo em seu exército. Mas e o número de armas que a Arábia Saudita compra anualmente dos EUA? E o investimento que Israel faz nas forças armadas? Se é para criticar a administração nuclear do Irã, ok. Vamos acabar com isso. Mas acabar no mundo inteiro. 
 Esse conflito de interesses no Oriente Médio pode gerar novos confrontos na região?Nasser – Depende. A Arábia Saudita disputa influência com o Irã. E ser um aliado dos EUA nesse caso te dá muitos privilégios. Quando a Arábia Saudita interveio no Iêmen mandando tropas, ninguém falou nada. A partir de agora, esse cenário muda. E pode ser perigoso. O que foi a guerra Irã-Iraque (1980-1988)? Disputa de influência regional, basicamente. Mas não creio que uma nova guerra possa surgir. Hoje acho muito difícil que se repita um confronto dessa magnitude por causa de influência. A questão nuclear deve ser encarada como uma tentativa de ascensão, e não de conflitos armados.
Daqui para frente, como deve ser a atuação dos EUA para garantir que o Irã cumpra o papel no acordo?Nasser – O Irã tem um regime autoritário. Isso não está em discussão. Mas acredito que deve haver confiança. E confiança mútua. O que houve com o Iraque antes da invasão americana? O Hussein proibiu as inspeções, EUA e Inglaterra acusaram o país de ter arma nuclear, invadiram o país e não acharam nada. E aí, cadê as armas de destruição em massa? E se isso se repete no Irã? Por que o Irã também vai confiar nos EUA?
Iraniana faz sinal da vitória após confirmação de acordo nuclear, nesta terça-feira (14). Foto: AP
Milhares foram às ruas da capital iraniana, Teerã, para celebrar o acordo. Foto: AP
Inspetores devem ter acesso a todas as instalações nucleares do Irã; na foto, iranianos em Teerã. Foto: AP
Iranianos celebram nas ruas de Terrã; Congresso dos EUA tem 60 dias para analisar acordo. Foto: AP
Celebrações em Teerã, capital iraniana; Israel chamou acordo de erro de proporções históricas. Foto: AP
Iranianos fazem o V da vitória após confirmação do acordo nuclear. Foto: AP
Iranianos enchem as ruas Teerã para celebrar acordo nuclear com potências, nesta terça-feira . Foto: AP
Acordo nuclear foi anunciado nesta terça-feira. Foto: AP
O presidente do Irã, Hassan Rouhani, anuncia o acordo nuclear, nesta terça-feira . Foto: AP
Iraniana faz sinal da vitória após confirmação de acordo nuclear, nesta terça-feira (14). Foto: AP
 Por que o Irã busca tanto as armas nucleares?Nasser – Para se proteger. A partir de 1979, quando o país se tornou inimigo dos Estados Unidos (EUA), o Irã têm investido nessa alternativa e intensificou a produção nos anos 2000. E o que houve no Oriente Médio nessa época? Os EUA invadiram o Afeganistão em 2001 e o Iraque, que faz fronteira com o Irã, em 2003. É claro que o país se sentiu ameaçado. Qual a desculpa dos EUA para ocupar o Iraque? Armas de destruição em massa. E onde estão essas armas? Firmar esse acordo não foi uma mostra de confiança apenas dos EUA. Mas do Irã também.

Postar um comentário

0 Comentários