A Identidade do Messias e os Falsos Ensinos
por Matheus Zandona
Sabemos que muitos grupos isolados, supostamente ‘judeus-messiânicos’, não estudam e não dão a devida autoridade à Torá e ao ensino Apostólico. São pessoas que nunca foram discipuladas, orientadas e guiadas por outros judeus messiânicos. Tal isolamento produz uma forma de “pseudo-judaísmo”, com práticas e doutrinas estranhas em todos os aspectos, incluindo o judaico. O que sabem de judaísmo é proveniente de livros e do Google, não tendo eles nenhum senso de realidade e convívio com outros judeus. “Viram” judeus da noite para o dia, lêem tudo o que conseguem na internet e no Wikipédia, e se acham mais judeus do que os verdadeiros judeus. Tudo isso, novamente, é conseqüência da falta de discipulado e convívio com judeus autênticos e de boa reputação tanto nos meios judaicos como nos meios messiânicos. Perante à comunidade Judaica tradicional, esses grupos são vistos com estranheza e repúdio. Não foi à toa que Yeshua nos ordena a fazermos TALMIDIM (discípulos), pois tal ação requer convívio e relacionamento. As “anomalias” que tem surgido nos últimos anos provenientes de ex-evangélicos que viram “judeus googlianos” poderiam ser evitadas com uma boa dose de bom senso, bom testemunho, discipulado e convívio com pessoas autênticas e com fruto para mostrar. Este artigo procurará demonstrar a todos o quão distantes estes grupos de “super-judeus” estão da Torá e do verdadeiro judaísmo, os quais nos foram mostrados por Yeshua e por seus talmidim.
Para começar, vamos ver uma admoestação apostólica em relação a pessoas que acham que entendem a unicidade de Deus e ficam satanizando e demonizando irmãos que aprenderam e creem no dogma niceniano da “Trindade” (não estamos aqui justificando nem propagando esta doutrina, apenas expondo um espírito hipócrita que ronda esses grupos militantes de anti-trinitarianos):
“Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios creem e tremem!! Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante? Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou, e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus. Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente”. (Tg 2:19-24)
Pois bem, mais uma vez NÃO ESTAMOS AQUI DEFENDENDO A TRINDADE criada no séc. IV d.C. Porém, é hipocrisia e arrogância um grupo que acha que entende a unicidade do Eterno (o que, por seus estudos, temos 100% de certeza que não entendem!!), ficar menosprezando, marginalizando e FAZENDO DE INIMIGO tudo e TODOS os que aprenderam de outra forma. SIM, cremos piamente que precisamos trazer mais clareza e entendimento em relação à natureza de D-us e Seu Ungido nos meios teológicos cristãos, porém, cremos também que este ensino deve vir acompanhado de AMOR, EXEMPLO, FRUTOS e TESTEMUNHO de vida! Assim nos ensinou Yeshua. A autoridade não vem do conhecimento apenas, mas também da conduta! Foi contra este tipo de arrogância e cinismo que o irmão de Yeshua, Yaakov (Tiago), escreveu o texto que citamos acima. Yeshua nos ensinou que TODA a Torá depende do Shemá (Dt 6:4) e do tratamento ao próximo (Lv 19:18). Esses dois mandamentos andam LADO A LADO. Adianta achar cumprir o Shemá e chamar todo mundo de ‘filhos da babilônia’, ‘idólatras’, ‘pagãos’ e coisas do tipo?
Por acaso apenas a crença na unicidade de D-us pode salvar ou justificar alguém? Pois que fique claro a todos os simpatizantes e membros dessas seitas pseudo judaico-messiânicas:
NÃO CRER NA TRINDADE NÃO SALVA, NEM JUSTIFICA PERANTE O ETERNO!!!!
Apenas quando a fé é aliada à um testemunho e amor verdadeiros, ela pode alguma coisa. Sem obras, a fé é inoperante para justificação! Yeshua nos ensinou que devemos ser intolerantes em relação a DUAS coisas: 1º PECADO, 2º HIPOCRISIA!
O judaísmo tem uma visão muito diferente da visão destes grupos em relação à DIVINDADE do Messias. No judaísmo chassídico, por exemplo, nos dias onde o sábio Menachem Schneerson ainda atuava nos meios Chabad, cria-se entre muitos de seus seguidores que ele era o Messias prometido pelos profetas de Israel (e ainda hoje muitos assim acreditam). Assim, uma vez que ele (Schneerson) assumiu tal postura, toda a conduta de serviços e orações nas sinagogas em que ele comparecia foi alterada. Orações eram feitas diretamente a ele. Serviços litúrgicos onde centenas de judeus chassidim ficavam dançando e cantando ao redor de sua “kissê moshê” durante horas, eram realizados em vários lugares. E ainda, nos dias do polêmico Shabatai Tzvi (séc XVII), que foi aclamado como Messias por milhares de Judeus da Europa e Ásia Menor, a adoração e culto à ele eram tão expressivos, que até mesmo os livros de oração da Comunidade Judaica de Amsterdã (Sidur) foram alterados para incluírem orações de louvor a ELE, quando estivesse presente em algum serviço. Perguntamos: será que algum outro judeu sequer acusou o movimento chabad de ‘idólatra’ por orarem e adorarem publicamente ao Schneerson? Será que algum judeu europeu foi considerado ‘idólatra’ por tratar Shabatai Tzvi como sendo “D-us entre o povo”? Por que, pela halachá judaica, não ferimos a unicidade do Eterno ao reverenciarmos e adorarmos o Mashiach como D-us? Por que esses falsos judeus messiânicos também não declaram guerra ao movimento chassídico?
Precisamos aprender como a Tanách e o judaísmo tradicional enxergam o Messias. Esses grupos extremistas presentes em nossos dias assumiram uma postura perigosa, desprovendo Yeshua (o verdadeiro Mashiach), da PLENA representação da divindade do Eterno. Vejamos o seguinte ensino do rabino Shaul (Apóstolo Paulo):
“…porquanto, nele (YESHUA), habita, corporalmente, TODA E PLENITUDE da Divindade.Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade”.(Cl 2:9-10)
Ou seja, Ele (Yeshua) não é o PAI, mas veio do PAI, possui a mesma natureza do PAI e representa o PAI a nós 100%. Ele é o único caminho, o único mediador. Através dele compreendemos o Eterno e nos relacionamos com Ele. Nem mesmo no judaísmo tradicional se despreza tanto a divindade do Mashiach como nestes grupos de falsos (ou “super”!) judeus-messiânicos. O Mashiach é tratado como D-us NO JUDAÍSMO TRADICIONAL pois representa D-us aos homens, e segundo a regra do apostolado (Shlichut), o enviado é 100% igual àquele que o enviou, perante as pessoas objetos de sua missão.
Dessa forma, o judaísmo entende que ao mesmo tempo onde há igualdade, também pode existir hierarquia, e por isso a unidade de D-us jamais é ferida. Mais uma vez, Yaakov (Tiago) nos ensina que a crença na unidade de D-us é importante, MAS NÃO SALVA NEM JUSTIFICA POR SI PRÓPRIA! Porém, uma conduta e um mau tratamento para com o próximo, condenam e desqualificam o justo. É exatamente isto que Yaakov tentou alertar aos gentios que estavam ‘descobrindo o judaísmo’ e se deslumbrando com o “Shemá”, mas esquecendo-se do amor ao próximo e do ensino com amor e exemplo. Portanto, estes grupos sectários deveriam estar menos preocupados com a “fé monoteísta” e mais preocupados com o estrago, divisão e sectarismo que tem criado entre o Corpo do Messias.
O Judaísmo é sim muito dogmático em relação ao Mashiach. Na doutrina Judaica, O Messias não é apenas o ‘grande profeta’ prometido na Torá, nem é apenas o ‘enviado’ de YHWH, nem simplesmente o “Filho de Elohim”. Na posição que assumiu de REPRESENTANTE do ETERNO (esta é a função do Mashiach no Judaísmo), ele é YHWV perante nós homens (Is 7:14 – mais uma vez, LEIAM as referências que comprovam os pontos elucidados). Sua missão (Messias) é representar o Eterno plenamente à nós (Cl 2:9). Vejam como os profetas de ISRAEL tratam o Mashiach:
“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra.Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: יְהוָה׀ צִדְקֵנוּ׃ YHWH, Justiça Nossa”. (Jr 23:6).
Um exemplo simplório, mas que consegue ajudar muitas pessoas a entenderem este conceito judaico da representatividade (Shlichut) é o seguinte:
O vice-presidente, é presidente? A resposta judaica à essa pergunta é: Sim e Não!
Sim! Pois quando incumbido pelo presidente para representá-LO em cerimônias, solenidades ou qualquer atividade oficial, ele representa 100% o presidente. Ele é tratado como se fosse o presidente e tem a autoridade presidencial para tal. Na posição de representante, sua assinatura equivale em gênero, número e grau à assinatura do presidente. Quando está representando o presidente, não há diferença alguma entre os dois!
Não! Pois sua autoridade existe apenas pois foi outorgada pelo próprio presidente. Ele (vice) responde e se submete ao presidente, apesar de representá-lo 100% perante a sociedade. O vice recebe sua autoridade e seu poder do próprio presidente. Ele não faz nada sem o aval do presidente e todas as suas decisões estão em consonância com a vontade presidencial.
É ISSO QUE OS PROFETAS E A TORÁ QUEREM DIZER QUANDO AFIRMAM QUE PODEMOS TER IGUALDADE E HIERARQUIA AO MESMO TEMPO ENTRE O ETERNO E SEU UNGIDO!!!
Este é o perigo das seitas que não entendem a concepção judaica que se tem do Mashiach, e em um esforço grande para se distanciarem dos erros ensinados historicamente por Roma, acabam por diminuir a importância e a natureza do Filho de D-us. Há muita, mas muita ignorância tanto nos meios cristãos como entre esses grupos de “super-judeus messiânicos”. Vamos aprender da fonte, pois apenas um ensino equilibrado e condizente com a Torá e com os Apóstolos poderá contribuir genuinamente para a redenção universal (tikkun olam) anunciando o tão esperado OLAM HABÁ (Era vindoura).
Shalom a todos e que o Eterno tenha misericórdia de todos nós!
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