CAP 27 - UM ESTUDO SISTEMÁTICO DE DOUTRINA BÍBLICA
A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO
Neste capítulo temos referência à santificação do crente. A aplicação da palavra a outras coisas será referida só para lançar luz sobre a santificação do crente.
I. O SIGNIFICADO DE TERMOS
O nome “santificação” é a tradução do grego “hagiasmos”. O verbo grego é “hagiazo”. O verbo hebraico correspondente é “quades”. O nome grego é usado dez vezes no Novo Testamento. Cinco vezes está traduzido “santificação” e cinco vezes está traduzido “santidade”. O verbo grego é empregado vinte e nove vezes no Velho Testamento. Vinte e seis vezes está traduzido “santificar”. Duas vezes é traduzido por “honra”. Uma vez ocorre voz passiva e está traduzida “sê santo”. “Hagios” é outra palavra grega derivada de “hagiazo” e está usada tanto como adjetivo como nome: como adjetivo ocorre noventa e três vezes com “pneuma” (Espírito) para designar o Espírito Santo. Em sessenta e oito outros casos é usado como adjetivo e está traduzido “santo”. Como nome está traduzido “santíssimo” duas vezes, uma vez como “o mais santo de todos”, quatro vezes “O Santo”; três vezes “lugar santo”; uma vez “coisa santa”; três vezes “santuário” e “santo” ou “santos” sessenta e duas vezes.
O Léxico de Thayer define “hagiazo” como significando “dar ou reconhecer por venerável, honrar, separar de coisas profanas e dedicar a Deus, consagrar; purificar”, tanto externamente - se cerimonialmente (1 Tim. 4:5; Heb. 9:13) ou por expiação (Heb. 10:10; 13:12) – como internamente. O significado de “hagiasmo” e “hagios” procede do de “hagiazo”, segundo o próprio uso deles.
II. A SANTIFICAÇÃO PASSADA DOS CRENTES
Há um sentido em que o povo salvo já foi santificado.
1. REFERÊNCIA ESCRITURÍSTICAS A ISSO
Atos 20:32; 26:18; 1 Cor. 1:2; 6:11; 2 Tess. 2:13; Heb. 19:19; 1 Ped. 1:2
2. NATUREZA DISSO
A santificação passada do crente é tríplice:
(1). Consagração
O crente foi consagrado ou dedicado ao serviço de Deus. Temos o tipo disto na santificação do tabernáculo e do templo com seus petrechos e equipamentos. Vide Ex. 29:37; 30:25-29; 40:8-11; Lev. 8:10,11; 21:23; 1 Reis 7:51; 2 Cor. 2:4; 5:1; 29:19. A santificação semelhante àquela que está ora sob consideração pode ser vista em Gên. 3:2; Joel 1:14; Jer. 1:5; João 10:36.
Santificação neste sentido é uma separação formal e externa para Deus. Não há pensamento aqui de santidade interna.
(2). Purificação legal
Esta é a espécie de santificação referida em 1 Cor. 1:30; Efe. 5:26; Heb. 10:10; 13:12. Aos olhos da Lei do Velho Testamento o crente é santo; porque Cristo, por Sua morte, pagou a penalidade da Lei e, pelo Seu sangue, lavou toda culpa (1 Cor. 6:11; Gal. 3:13; Apoc. 1:5; 7:14).
(3). Purificação moral da alma
Noutro capítulo já indicamos que a regeneração remove toda depravação da alma, ou natureza espiritual do homem, de maneira que o único pecado que fica no homem é o pecado da natureza carnal, a qual é muitas vezes referida como corpo. Cremos que esta espécie de santificação está referida em 2Tess. 2:13 e 1Ped. 1:2, também 1 Cor. 6:11.
Tanto quanto diz respeito à remoção da presença do pecado da alma, o crente tem uma perfeita santificação moral, tanto como uma perfeita santificação formal e legal. Fica no crente, como veremos, a necessidade de mais santificação, mas esta não tem que ver com a remoção do pecado da alma. A alma se faz sem pecado na regeneração e neste sentido está perfeitamente santificada.
3. COMO É ELA REALIZADA
(1). Deus, sem dúvida, é o autor dela
Ele é o autor de toda a boa coisa. Ele nos elegeu para ela. Ele a ideou e planeou.
(2). O Espírito Santo é o Agente de Deus na Realização dela
1 Cor. 6:11; 2 Tess. 2:13; 1 Ped. 1:2.
(3). A morte de Cristo é à base da obra do Espírito Santo
Vide as passagens dadas supra sob purificação legal.
(4). A fé é o meio
Atos 26:18. A fé é o meio pelo qual a alma se purifica (Atos 15:9; 1 Ped. 1:22).
(5). A palavra de Deus é um meio Secundário
Isto é verdade porque a “fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus” (Rom. 10:17).
III. A SANTIFICAÇÃO PRESENTE DO CRENTE
Há um sentido em que o crente está sendo santificado.
1. REFERÊNCIA DA ESCRITURA A ELA
João 17:17,19; Rom. 6:19-22; 15:16; 1 Tess. 5:23; Heb. 2:11; 10:14; 12:14; 1 Ped. 1:15. Alistamos aqui passagens somente em que “hagiasmos”, “hagiazo” ou “hagios” aparecem no original. Há muitas outras passagens que, indiretamente, se referem à santidade presente do crente.
2. COMO É ELA REALIZADA
(1). Deus é o autor dela
João 17:17; 1 Tess. 5:23.
(2). O Espírito Santo é o agente
Rom. 15:16. O Espírito Santo realiza a nossa santificação presente por guiar (Rom. 8:14), transformar (Rom. 12:2; 2 Cor. 2:18), fortificar (Efe. 3:16), fazer frutífero (Gal. 5:22,23).
(3). A morte de Cristo é a base
A morte de Cristo provê a base para tudo da obra do Espírito Santo.
(4). A palavra de Deus é o Instrumento do Espírito
João 17:17. Isto está provado por todas as passagens que ensinam que a verdade promove obediência, previne e purifica do pecado, faz-nos odiar o pecado e causa-nos crescer na graça. Vide Salm. 119:9, 11, 34, 43, 44, 50, 93, 104; Heb. 5:12-14; 1 Ped. 2:2.
(5). A fé é o meio principal
É pela fé que a instrumentalidade da Palavra se faz eficiente. A fé é ao mesmo tempo o resultado da obra santificadora do Espírito e o meio principal para Sua obra santificadora ulterior.
(6). Nossas próprias obras são também um meio para nossa presente santificação
Rom. 6:19. Assim como o exercício físico é necessário ao crescimento espiritual. O exercício físico desenvolve o apetite para o alimento, do qual recebemos nutrição que produz crescimento. O exercício espiritual desenvolve apetite para a Palavra de Deus, do qual recebemos nutrimento espiritual que produz crescimento na graça.
(7). Outros meios menos diretos
Entre outros meios menos diretos em nossa presente santificação nomeiem-se a oração, o ministério ordenado de Deus (Efe. 4:11,12), freqüência à igreja e associação com crentes em capacidade comunal, observância das ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor, a observância do dia do Senhor e o castigo e as providências de Deus.
Tudo dessas coisas ajuda para com a nossa presente santificação, não por causa de qualquer virtude intrínseca de si mesmas, mas somente como de um ou outro meio, trazem-nos em contacto com a verdade divina, iluminam nossas mentes em relação a ela e trazem-nos a uma apreciação mais elevada dela e mais completa obediência a ela. É somente desta maneira que o batismo e a Ceia do Senhor contribuem para a nossa presente santificação. Não são sacramentos e muito menos sacramentos concessores de graças. A graça recebida por meio das ordenanças não é recebida ex opere operato – do mero ato de observância.
3. A NATUREZA DELA
É “aquela operação contínua do Espírito Santo, pela qual a santa disposição comunicada na regeneração é mantida e fortalecida” (Strong, Systematic Theology, pág. 483).
(1). O que ela não é
A. Não é um melhoramento da carne
Nossa presente santificação inclui o corpo (1 Tes. 5:23), mas não tanto assim que altere essencialmente a pecaminosidade da carne. A carne cobiça contra o Espírito (Gal. 5:17). Mesmo num soldado da cruz idoso e sasonado, como foi o apóstolo Paulo, vemos que a carne estava ainda inalterada (Rom. 7:14-24). O corpo está incluído em que á alma, por meio da santificação, se dá maior controle sobre ele e assim está guardado, até certo ponto, de atos ostensivos de pecado; mas sua pecaminosidade essencial está latente.
B. Não é uma eliminação gradual de pecado na alma.
Como já notamos, a alma se torna impoluta na regeneração e se une com o Espírito Santo. Nenhum pecado fica na alma, portanto, a ser eliminado por nossa presente santificação.
(2). O que ela é
A. É uma manutenção progressiva e fortalecimento da alma em santidade.
Por meio de nossa presente santificação nossas almas são confirmadas em santidade. Santo foi Adão na criação, mas não foi confirmado em santidade. A natureza progressiva de nossa presente santificação está bem implicada em Heb. 2:11 e 10:14, onde está empregado o particípio presente, que sempre denota ação progressiva.
B. É inteiramente interna
Nossa santificação passada é em parte externa, mas a presente é inteiramente interna.
C. É prática.
Conquanto seja interna, contudo ela se manifesta externamente em vida prática cristã.
D. É experimental
Nossa santificação passada pode ser só muito escuramente experiêncial no tempo em que ela ocorre, mas a presente é definitivamente experiencial. O crente sente e conhece o trabalhar do Espírito no seu coração, fortalecendo-o, transformando-o de graça em graça (2 Cor. 3:18), movendo-o à oração, aos estudo da Bíblia e outros exercícios e atividades cristãs. E esta obra do Espírito no crente é a fonte de sua firmeza. É deste modo que o Espírito testemunha com os nossos espíritos que somos filhos de Deus (Rom. 8:18).
E. É sempre incompleta nesta vida.
A nova vida jamais ganha perfeito controle sobre a natureza carnal; Isto nos leva a considerar:
IV. REFUTADA A DOUTRINA DE PERFEIÇÃO SEM PECADO
Um estudo da doutrina bíblica de santificação não é completo sem uma consideração do ensino que a impecabilidade é inatingível nesta vida. Urgimos sobre o seguinte:
1. OBJEÇÕES A ESTA DOUTRINA
(1). O apóstolo Paulo, a quem Deus estabeleceu como um exemplo humano para crentes (1 Tim. 1:16) e em cuja vida não estamos certos de se ver qualquer falta, não teve, mesmo na velhice, alcançada perfeição impecável.
É isto evidente de Rom. 7:14-24. Absurdo é referir isto a Paulo antes da regeneração. No décimo quarto versículo há significativa mudança do tempo passado para o presente. Fazer os versos além do décimo quarto referir-se à vida de Paulo antes da regeneração é fazer deles uma monstruosidade gramatical. A última parte do verso vigésimo quinto mostra que a vitória sobre o pecado por meio de Jesus Cristo não tem lugar nesta vida. Isto também está patente em Rom. 8:23-25. A vitória vem somente com a redenção do corpo, a qual terá logar na ressurreição.
Outra vez, a linguagem de Rom. 7:14-24 mostra que ela se refere a um homem salvo. “Nenhum homem irregenerado pode verdadeiramente dizer: “Eu consinto com a Lei, que é boa”; “Querer estar presente comigo”; “Porque me deleito na Lei de Deus segundo o homem interior”; “Assim então, com a mente eu mesmo sirvo à Lei de Deus” (Pendleton, Chistian Doctrines, pág. 301).
A idéia que em Rom. 7 temos a experiência de Paulo depois de ter sido salvo, mas antes santificado, enquanto que em Rom. 8 temos sua experiência depois de ter sido santificado, é também absurda. Como temos apontado, o capítulo oitavo de Romanos não ensina a perfeição impecável mais do que o capítulo sétimo. No oitavo Paulo ensina que os crentes ainda gemem debaixo da pecaminosidade do corpo e estão esperando pela sua redenção (vs. 23), sendo salvos pela esperança (vs. 24,25). Toda a prosa do crente: na sua experiência, safando-se do capítulo sétimo de Romanos para o oitavo, não tem sentido. Todo crente vive toda a sua vida em ambos os capítulos, que ambos são só parte de um discurso ligado. “O portanto” do verso 1 do capítulo 8 dirige-nos de volta à última parte do capítulo sétimo como base do que está dito no oitavo.
A epístola aos romanos foi escrita antes da viagem de Paulo a Roma. Depois de ter sido levado a Roma, enquanto prisioneiro lá, escreveu algumas epístolas.Uma delas é a epístola aos filipenses. Nesta epístola Paulo ainda renuncia à perfeição absoluta. Disse ele que não se considerou como já a tendo atingido. Fil. 3:12.
(2). O modelo de oração dado por Cristo aos Seus discípulos implica pecaminosidade contínua por parte do povo salvo.
Como é bem sabido, Cristo ensinou Seus discípulos a confessar os seus pecados na oração modelo. Nem Ele em qualquer tempo ou de qualquer modo insinuou ou implicou que havia um tempo quando eles poderiam apropriadamente dispensar esta confissão do pecado e petição de perdão.
(3). O fato que todos entre os filhos de Deus são castigados por Ele mostra que todos eles pecam (Heb. 12:5-8).
“Se estais sem castigo, do qual todos são feitos participantes, então sois bastardos e não filhos” (Heb. 12:8). Não pode haver castigo sem pecado. Deus podia tratar-nos de um modo providencial, se fossemos perfeitos, mas os Seus tratos não poderiam chamar-se castigo.
(4). Tiago declara que todos pecam.
“Todos nós tropeçamos em muitas coisas” (Tia. 3:2).
(5). João declara que quem professa impecabilidade está enganado.
“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (1 João 1:8). “Nós” – certamente se refere a crentes. E o tempo presente mostra que a passagem se refere, não a uma negação de pecado anterior senão a uma negação de pecado atual. E esta passagem nos diz que os professantes da perfeição impecável estão auto-iludidos. Estão enganados pelo menos sobre quatro coisas, a saber:
A. A natureza da Lei de Deus (a Lei de Cristo – 1 Cor. 9:21) para crentes.
Em vez de verem a Lei de Deus para crentes como um transcrito de Sua santidade, um padrão perfeito de justiça, vêem-na como uma balança móvel que se acomoda à nossa habilidade. “Esta idéia reduz a divina à habilidade do devedor para pagar,- método breve de se desincumbirem obrigações. Posso saltar a torre de uma igreja, se me for permitido fazer uma torre de igreja bem baixa; posso tocar as estrelas, se as estrelas baixarem somente à minha mão.” (Strong).
B. O escôpo do pecado.
Queriam que crêssemos que as transgressões “involuntárias” não são pecados. John Wesley, um dos mais proeminentes advogados da doutrina de perfeição impecável nesta vida , disse: “Creio que uma pessoa cheia do amor de Deus ainda está sujeita a transgressões involuntárias. Tais transgressões podeis chamar pecados, se vos apraz; eu não.”
Meios involuntários: “1. Contrário a vontade ou desejo de alguém. 2. Não sob o controle da vontade.” Como aplicada a atos morais, a palavra deve ter o primeiro sentido. O segundo sentido aplica-se somente a tais coisas como a digestão, o bater do coração e outras funções naturais do corpo. E o significado da vontade ou desejo na primeira definição deve ser entendido no sentido restrito do teor normal da vontade. No sentido lato ninguém nunca age contra sua vontade ou desejo, exceto quando sobrepujado pela força física. Nenhuma pessoa salva quer normalmente zangar-se e falar palavras ferinas; mas, sob sérias provocações, perde-se a calma e diz coisas que não devera ter dito. São estes atos involuntários, segundo o único sentido em que se pode aplicar o termo a atos morais. Portanto, conforme com John Wesley e outros perfeccionistas, estes atos não são pecado. As mesmas coisas poder ser aplicada ao homicídio de Urias por Davi e ao seu adultério com Betséba.
C. O poder da vontade humana.
Afirmar que à vontade, mesmo normalmente, pode escolher a Deus supremamente em qualquer momento, ou é negar a depravação na natureza carnal do homem ou implicar que a vontade é uma adesão externa a natureza do homem antes que uma expressão dela. “Dizer que, o que quer que tenham sido os hábitos do passado e o que quer que sejam as más afeições do presente, está o homem perfeitamente apto a obedecer em qualquer momento à Lei total de Deus, é negar que haja coisas tais como caráter e depravação.” (Strong).
D. Sua própria salvação.
Quando João diz: “a verdade não está em nós”, ele não se refere à verdade abstrata, mas a “verdade do evangelho, trazendo a luz de Deus à alma e assim revelando pecados como a luz solar faz ao pó” (Sawtelle). “A verdade é para ser tomada objetivamente como a verdade divina em Cristo, o princípio absoluto da vida vindo de Deus e recebido no coração” (Lange). Este sentido é confirmado pelo verso 10, que diz: “Se dizemos que não pecamos, fazemo-lo (a Deus) mentiroso e Sua Palavra não está em nós.” Esta passagem repete a verdade do verso 8. “As pessoas supostas como dizendo isto são vistas no ponto quando deveriam estar oferecendo sua confissão – uma confissão de pecado principiando no passado e chegando ao presente; daí, o tempo perfeito” (Sawtelle). E as expressões “a verdade não está em nós” e “Sua Palavra não está em nós” negam o caráter cristão de todo o professante da perfeição impecável. Por estas passagens todos eles estão perdidos.
2. AS ESCRITURAS EXPLICADAS
Assumimos as seguintes passagens da Escritura tidas pelos perfeccionistas impecáveis como prova da sua teoria.
(1). As passagens que falam do crente como sendo “perfeito”
Referimo-nos aqui a semelhantes passagens como Lucas 6:40; 1 Cor. 2:6; 2 Cor. 13:11; Efe. 4:11; Fili. 3:15; Col. 4:12; 2 Tim. 3:17.
A perfeição dessas passagens não é absoluta: é apenas perfeição relativa. Algumas vezes a palavra “perfeito” refere-se só a maturidade cristã em contraste com a fraqueza de criancinhas em Cristo. Algumas vezes quer dizer somente que aqueles a quem descreve estão livres de qualquer falta grave. Assim nos é dito que Noé era um homem justo e perfeito” (Gen. 6:9), ainda mesmo bêbedo (Gen. 9:21). E assim se diz que Jó era perfeito e justo” (Jó 1:1).
O emprego da palavra “perfeito” em Fil. 3:15 lança luz interessante e instrutiva sobre o seu sentido usual na Escritura. No verso 12, como já notamos, Paulo renuncia à perfeição. Então, no verso 15 ele endereça uma exortação à “tantos quantos são perfeitos”. É perfeitamente evidente, então, que no verso 12 ele faz referência à perfeição absoluta, enquanto que no verso 15 ele alude aos que são relativamente perfeitos ou maduros. E a estes ele exorta a “sentir o mesmo”. Por isto ele quer dizer que eles devem renunciar à perfeição absoluta, como ele fez, e prosseguir para coisas mais elevadas. Assim vemos que “perfeito”, a luz do significado costumeiro do termo na Escritura, quando aplicado a crentes, exige que crentes renunciem a perfeição absoluta e todavia prossigam para coisas mais elevadas. O indivíduo que professa perfeição impecável e o que não está prosseguindo para frente não são “perfeitos”.
(2). Mat. 5:48 “Vós, portanto, sede perfeitos, assim como o vosso Pai celeste é perfeito.”
Nesta passagem Jesus firma para os Seus discípulos o ideal de perfeição absoluta. Ele não podia ter firmado nada menos do que isto sem coonestar e encorajar o pecado. Mas não há nada aqui ou em qualquer outro lugar que implique que os seguidores de Cristo ainda alcancem este ideal na carne. De fato, é ímpio afirmar que atingem este ideal, pois a perfeição oferecida é a de Deus mesmo.
(3). 1 Tess. 5:23 “E o Deus de paz mesmo voz santifique em tudo e sejam conservados inteiros vosso espírito e alma e corpo sem mancha na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”
Esta passagem deve ser entendida à luz da própria experiência de Paulo e à luz da Escritura como um todo. Se Paulo orou pela completa santificação dos tessalonicenses nesta vida, então ele orou por algo para eles que ele mesmo não tinha provado, ou então ele perdeu mais tarde sua completa santificação; porque, quando ele escreveu aos romanos muito depois, como temos notado, ele não professou impecabilidade.
A santificação porque Paulo orou para que Deus operasse nos tessalonicenses foi, na verdade, santificação completa, como evidenciado pela palavra grega “holoteles”; mas ele não indica que é para se cumprir nesta vida. A Escritura muito definitivamente condena a noção que Paulo esperou que ela se cumprisse nesta vida. E a menção da vinda de Cristo sugere que ele contemplou o futuro como o tempo quando sua oração estava para ter completa resposta. Paulo orou pelo prosseguimento da santificação progressiva, assim como Cristo orou pelo mesmo para os Seus discípulos (João 17:17), cuja santificação progressiva resultaria em completa santificação na segunda vinda de Cristo.
(4). 1 João 2:4 “Aquele que diz, eu O conheço e não guarda os Seus mandamentos, é um mentiroso e a verdade não está nele.”
Juntamente com esta passagem podemos classificar outras passagens semelhantes tais como João 14:23; Rom. 8:12; 1 João 1:6.
Estas passagens fazem referência ao teor geral da vida cristã. Elas não podem ser tidas como ensinando que quem está salvo guarda os mandamentos de Deus perfeitamente em qualquer momento, porque outras passagens o negam.
O Rio Mississipi proporciona uma excelente ilustração da vida cristã. Se se perguntar a alguém para que direção corre esse rio, responderá que corre na direção sul; mas a matéria de fato é que este rio algumas vezes corre para leste, outras para oeste e algumas vezes mesmo corre numa direção norte. Mas, a despeito destes fatos, prosseguimos dizendo que ele corre para o sul. Assim falamos porque consideramos o rio como um todo. Vemos o alvo principal do rio. Assim é com a vida cristã. Quando é vista como um todo, ou quanto ao seu alvo principal, percebe-se que é uma vida de justiça; mas a caudal, quanto ao seu alvo não é tão rápida perto das margens como é no centro. E nunca conservará sempre sua direção usual: baterá em obstruções que a desviarão temporariamente, mas de novo assumirá o seu curso normal no futuro.
(5). 1 João 1:7 “O sangue de Jesus Cristo seu Filho purifica-nos de todo pecado.”
Alguns têm a idéia que esta passagem quer dizer que o sangue de Jesus Cristo faz-nos impecáveis quanto a estado. Mas não é assim. O sangue de Jesus Cristo purifica-nos somente quanto à nossa posição perante Deus. Esta passagem faz referência á justificação e santificação legais, mas não à santificação progressiva e prática.
A necessidade de purificação constante da contaminação recorrente foi ensinada por Jesus quando Ele lavou os pés dos Seus discípulos. Ele disse: “O que está banhado não necessita senão de lavar seus pés, que o mais está todo limpo.” (João 13:10). O restante dessa passagem “estais limpos, mas não todos”, o qual está explicado no verso seguinte como querendo dizer: “Não estais todos limpos”, referindo-se a Judas, mostra que Jesus estava tirando uma analogia entre a purificação física e a purificação espiritual. Tanto como quem toma banho não precisaria de lavar-se outra vez, mas de limpar-se do pé nos pés, assim quem se banhou no sangue de Cristo não o repetirá mas, não obstante, estará na necessidade diária de se purificar da contaminação que se lhe adere no seu contato com o mundo. Ele “está todo limpo” quanto à sua posição perante Deus, mas na precisão de confissão e perdão diários para que mantenham comunhão com Deus.
(6). 1 João 3:9 “Quem é nascido de Deus não peca, porque Sua (de Deus) semente permanece nele; não pode pecar porque é nascido de Deus.”
A respeito dessa passagem, temos o seguinte a dizer:
A. Ela se refere ao padrão atual do viver cristão e não a um mero padrão ideal.
A passagem fala do que é realmente o cristão na sua conduta e não meramente de o que devera ser. Isto é evidente do verso seguinte, que diz: “Nisto (isto é, na sua inabilidade para pecar) os filhos de Deus são manifestos e os filhos do diabo.”
B. Ela se refere ao homem inteiro e não meramente à nova natureza.
É evidente que a “semente” nesta passagem se refere à nova natureza. O grego aqui é “sperma”. Está usada quarenta e quatro vezes no Novo Testamento, significando quarenta e uma vezes, não semente de plantio, mas progênie, descendências. Quando a Palavra de Deus é chamada “semente”, o grego não tem “sperma”, mas “spora” ou “sporos”. Vide Lucas 8:11; 1 Ped. 1:23.
Outra objeção de peso à idéia que “semente” representa aqui a Palavra de Deus e o “Qualquer que” a nova natureza, é que não é a Palavra de Deus que faz impossível a nova natureza pecar. É a qualidade da nova natureza que faz isto impossível. Se a nova natureza fosse pecaminosa, então a Palavra de Deus não impediria que ela pecasse mais do que impede a carne de pecar.
Thayer faz “semente” nesta passagem referir-se a energia divina do Espírito Santo operando na alma, pela qual somos regenerados. Mas isto é uma interpretação puramente arbitrária. Não temos razão para crermos que tanto o Espírito Santo como Sua energia são referidos ainda como “sperma”.
Portanto, tomando a “semente” como se referindo a nova natureza, necessariamente interpretamos “qualquer que” como se referindo ao homem inteiro; porque é “ele”, o homem inteiro, em quem a “semente”, a nova natureza, permanece, que não pode pecar.
C. Ela afirma, não que uma pessoa regenerada não pode cometer um só pecado, mas que ela não pode seguir um curso contínuo de pecado; não pode viver em pecado.
Adotamos esta interpretação desta passagem pelas seguintes razões:
(a). É a única idéia que está em harmonia com o texto. Está manifesto pelo contexto, como já foi observado, que João falava daquilo que é exterior e atual, algo que faz uma diferença manifesta em si e de si. Então, também, esta passagem evidentemente quer dizer a mesma coisa como os versos seis e oito e, se possível, são menos favoráveis as outras interpretações.
(b). Enquanto é verdade que o homem todo não é nascido de Deus, todavia, em passagens gerais tais como a que ora se considera a Escritura não faz distinção entre as duas naturezas do crente, mas frouxamente se refere ao homem como um todo. Diz a Escritura: “Exceto UM seja nascido de novo” e não “exceto um tenha uma nova vida nascida com ele”; “se alguém está em Cristo, ELE é uma nova criatura”; não “ele tem uma nova criatura nele”; “vivificou-NOS com Cristo”, não “vivificou uma nova vida dentro de nós”; “ele nos gerou pela Palavra da verdade”, não “ele gerou algo dentro de nós pela Palavra da verdade.”
(c). é a única idéia que toma conta do presente infinitivo “pecar” (grego- “harmartanein”) na última parte da passagem. O infinitivo presente sempre significa ação durativa, linear, progressiva – ação em sua duração continuativa. Por causa deste sentido do infinitivo grego, Weymouth traduz a passagem: “Ninguém que é um filho de Deus está habitualmente culpado de pecado. Um germe dado de Deus, de vida, fica nele e ele não pode pecar habitualmente”. E Sawtelle explica “não faz pecado”, como significando: “Não o faz como a Lei de sua vida, como a tendência do seu ser; não pertence à esfera do pecado.”
D. Notem os perfeccionistas impecáveis os seguintes fatos sobre esta passagem:
(a). Sua afirmação aplica-se a toda gente salva; não apenas a alguns que alcançaram um suposto plano elevado de vida. Assim esta passagem mata a teoria da “segunda benção”. A passagem esta falando sobre o que o crente é em virtude da regeneração, não o que ele é em virtude de uma suposta “segunda obra de graça”.
(b) A passagem referida afirma que o caráter referido não pode pecar. Assim, segundo sua própria teoria, teriam de interpretar a passagem como ensinando que um que alcançou a impecabilidade não pode nunca reincidir em pecado. Isto eles não admitirão. Assim mostram que seu único interesse nesta passagem é acalentar sua heresia ignorante e sem sentido.
V. OS FRUTOS DA SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA.
Pensamos bom aqui alistar quatro coisas que J. M. Pendleton, em “Christians Doctrines” dá como evidências ou frutos das influências graciosas do Espírito Santo em nosso santificação progressiva.
1. UMA NOÇÃO PROFUNDA DE DESVALIA
Nenhuma pessoa em quem o Espírito Santo fez qualquer obra considerável tem qualquer disposição para envaidecer-se de sua bondade. Para exemplos da noção de desvalia da parte dos santos de Deus, vide Jó 38:1,2; 40:4; 42:5,6; Efe. 3:8; Isa. 6. Também Fil. 3:12-15.
2. UM ÓDIO CRESCENTE AO PECADO
Nenhuma pessoa salva ama o pecado; isto é, o amor ao pecado não é o afeto dominante de sua vida. Os pecados que ela comete não são o resultado de um amor normalmente dominante ao pecado senão de um levante ocasional da carne ou da fricção constante entre a carne e o Espírito.
3. UM INTERESSE CRESCENTE NOS MEIOS DE GRAÇA
Quanto mais o Espírito Santo obra numa pessoa, tanto mais ela aprecia a Palavra de Deus, a oração, o culto e o demais; e mais ela se avantaja dos benefícios de tais atos.
4. UM AMOR EM AUMENTO DAS COISAS CELESTIAIS
Este amor substitui o primeiro amor pelo pecado e faz o filho de Deus buscar aquelas coisas que são de cima.
Todos destes frutos do processo santificante impedem o fato que não se pode atingir a impecância nesta vida por encorajar-se o pecado. A presença do pecado na vida do cristão não lhe proporciona nenhuma consolação; pelo contrário, proporciona-lhe pesar. Ele quisera estar livre do seu peso terreno e elevar-se aos cimos de Deus para que sua alma pudesse aquecer-se no sol de justiça. Toda pessoa salva pode dizer com Paulo: “Desgraçado homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte” (Rom. 7:24). Ele deseja que fosse sem pecado, mas está indisposto a violentar a Escritura e praticar a auto decepção para fingir que está sem pecado. O seu próprio desejo de impecabilidade impede-o de praticar a hipocrisia, de perpetrar um engodo como todos os perfeccionistas impecáveis fazem.
Autor: Thomas Paul Simmons, D.Th.
Digitalização: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos, 2004
Revisão: Luis Antonio dos Santos – 10/12/05
A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO
Neste capítulo temos referência à santificação do crente. A aplicação da palavra a outras coisas será referida só para lançar luz sobre a santificação do crente.
I. O SIGNIFICADO DE TERMOS
O nome “santificação” é a tradução do grego “hagiasmos”. O verbo grego é “hagiazo”. O verbo hebraico correspondente é “quades”. O nome grego é usado dez vezes no Novo Testamento. Cinco vezes está traduzido “santificação” e cinco vezes está traduzido “santidade”. O verbo grego é empregado vinte e nove vezes no Velho Testamento. Vinte e seis vezes está traduzido “santificar”. Duas vezes é traduzido por “honra”. Uma vez ocorre voz passiva e está traduzida “sê santo”. “Hagios” é outra palavra grega derivada de “hagiazo” e está usada tanto como adjetivo como nome: como adjetivo ocorre noventa e três vezes com “pneuma” (Espírito) para designar o Espírito Santo. Em sessenta e oito outros casos é usado como adjetivo e está traduzido “santo”. Como nome está traduzido “santíssimo” duas vezes, uma vez como “o mais santo de todos”, quatro vezes “O Santo”; três vezes “lugar santo”; uma vez “coisa santa”; três vezes “santuário” e “santo” ou “santos” sessenta e duas vezes.
O Léxico de Thayer define “hagiazo” como significando “dar ou reconhecer por venerável, honrar, separar de coisas profanas e dedicar a Deus, consagrar; purificar”, tanto externamente - se cerimonialmente (1 Tim. 4:5; Heb. 9:13) ou por expiação (Heb. 10:10; 13:12) – como internamente. O significado de “hagiasmo” e “hagios” procede do de “hagiazo”, segundo o próprio uso deles.
II. A SANTIFICAÇÃO PASSADA DOS CRENTES
Há um sentido em que o povo salvo já foi santificado.
1. REFERÊNCIA ESCRITURÍSTICAS A ISSO
Atos 20:32; 26:18; 1 Cor. 1:2; 6:11; 2 Tess. 2:13; Heb. 19:19; 1 Ped. 1:2
2. NATUREZA DISSO
A santificação passada do crente é tríplice:
(1). Consagração
O crente foi consagrado ou dedicado ao serviço de Deus. Temos o tipo disto na santificação do tabernáculo e do templo com seus petrechos e equipamentos. Vide Ex. 29:37; 30:25-29; 40:8-11; Lev. 8:10,11; 21:23; 1 Reis 7:51; 2 Cor. 2:4; 5:1; 29:19. A santificação semelhante àquela que está ora sob consideração pode ser vista em Gên. 3:2; Joel 1:14; Jer. 1:5; João 10:36.
Santificação neste sentido é uma separação formal e externa para Deus. Não há pensamento aqui de santidade interna.
(2). Purificação legal
Esta é a espécie de santificação referida em 1 Cor. 1:30; Efe. 5:26; Heb. 10:10; 13:12. Aos olhos da Lei do Velho Testamento o crente é santo; porque Cristo, por Sua morte, pagou a penalidade da Lei e, pelo Seu sangue, lavou toda culpa (1 Cor. 6:11; Gal. 3:13; Apoc. 1:5; 7:14).
(3). Purificação moral da alma
Noutro capítulo já indicamos que a regeneração remove toda depravação da alma, ou natureza espiritual do homem, de maneira que o único pecado que fica no homem é o pecado da natureza carnal, a qual é muitas vezes referida como corpo. Cremos que esta espécie de santificação está referida em 2Tess. 2:13 e 1Ped. 1:2, também 1 Cor. 6:11.
Tanto quanto diz respeito à remoção da presença do pecado da alma, o crente tem uma perfeita santificação moral, tanto como uma perfeita santificação formal e legal. Fica no crente, como veremos, a necessidade de mais santificação, mas esta não tem que ver com a remoção do pecado da alma. A alma se faz sem pecado na regeneração e neste sentido está perfeitamente santificada.
3. COMO É ELA REALIZADA
(1). Deus, sem dúvida, é o autor dela
Ele é o autor de toda a boa coisa. Ele nos elegeu para ela. Ele a ideou e planeou.
(2). O Espírito Santo é o Agente de Deus na Realização dela
1 Cor. 6:11; 2 Tess. 2:13; 1 Ped. 1:2.
(3). A morte de Cristo é à base da obra do Espírito Santo
Vide as passagens dadas supra sob purificação legal.
(4). A fé é o meio
Atos 26:18. A fé é o meio pelo qual a alma se purifica (Atos 15:9; 1 Ped. 1:22).
(5). A palavra de Deus é um meio Secundário
Isto é verdade porque a “fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus” (Rom. 10:17).
III. A SANTIFICAÇÃO PRESENTE DO CRENTE
Há um sentido em que o crente está sendo santificado.
1. REFERÊNCIA DA ESCRITURA A ELA
João 17:17,19; Rom. 6:19-22; 15:16; 1 Tess. 5:23; Heb. 2:11; 10:14; 12:14; 1 Ped. 1:15. Alistamos aqui passagens somente em que “hagiasmos”, “hagiazo” ou “hagios” aparecem no original. Há muitas outras passagens que, indiretamente, se referem à santidade presente do crente.
2. COMO É ELA REALIZADA
(1). Deus é o autor dela
João 17:17; 1 Tess. 5:23.
(2). O Espírito Santo é o agente
Rom. 15:16. O Espírito Santo realiza a nossa santificação presente por guiar (Rom. 8:14), transformar (Rom. 12:2; 2 Cor. 2:18), fortificar (Efe. 3:16), fazer frutífero (Gal. 5:22,23).
(3). A morte de Cristo é a base
A morte de Cristo provê a base para tudo da obra do Espírito Santo.
(4). A palavra de Deus é o Instrumento do Espírito
João 17:17. Isto está provado por todas as passagens que ensinam que a verdade promove obediência, previne e purifica do pecado, faz-nos odiar o pecado e causa-nos crescer na graça. Vide Salm. 119:9, 11, 34, 43, 44, 50, 93, 104; Heb. 5:12-14; 1 Ped. 2:2.
(5). A fé é o meio principal
É pela fé que a instrumentalidade da Palavra se faz eficiente. A fé é ao mesmo tempo o resultado da obra santificadora do Espírito e o meio principal para Sua obra santificadora ulterior.
(6). Nossas próprias obras são também um meio para nossa presente santificação
Rom. 6:19. Assim como o exercício físico é necessário ao crescimento espiritual. O exercício físico desenvolve o apetite para o alimento, do qual recebemos nutrição que produz crescimento. O exercício espiritual desenvolve apetite para a Palavra de Deus, do qual recebemos nutrimento espiritual que produz crescimento na graça.
(7). Outros meios menos diretos
Entre outros meios menos diretos em nossa presente santificação nomeiem-se a oração, o ministério ordenado de Deus (Efe. 4:11,12), freqüência à igreja e associação com crentes em capacidade comunal, observância das ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor, a observância do dia do Senhor e o castigo e as providências de Deus.
Tudo dessas coisas ajuda para com a nossa presente santificação, não por causa de qualquer virtude intrínseca de si mesmas, mas somente como de um ou outro meio, trazem-nos em contacto com a verdade divina, iluminam nossas mentes em relação a ela e trazem-nos a uma apreciação mais elevada dela e mais completa obediência a ela. É somente desta maneira que o batismo e a Ceia do Senhor contribuem para a nossa presente santificação. Não são sacramentos e muito menos sacramentos concessores de graças. A graça recebida por meio das ordenanças não é recebida ex opere operato – do mero ato de observância.
3. A NATUREZA DELA
É “aquela operação contínua do Espírito Santo, pela qual a santa disposição comunicada na regeneração é mantida e fortalecida” (Strong, Systematic Theology, pág. 483).
(1). O que ela não é
A. Não é um melhoramento da carne
Nossa presente santificação inclui o corpo (1 Tes. 5:23), mas não tanto assim que altere essencialmente a pecaminosidade da carne. A carne cobiça contra o Espírito (Gal. 5:17). Mesmo num soldado da cruz idoso e sasonado, como foi o apóstolo Paulo, vemos que a carne estava ainda inalterada (Rom. 7:14-24). O corpo está incluído em que á alma, por meio da santificação, se dá maior controle sobre ele e assim está guardado, até certo ponto, de atos ostensivos de pecado; mas sua pecaminosidade essencial está latente.
B. Não é uma eliminação gradual de pecado na alma.
Como já notamos, a alma se torna impoluta na regeneração e se une com o Espírito Santo. Nenhum pecado fica na alma, portanto, a ser eliminado por nossa presente santificação.
(2). O que ela é
A. É uma manutenção progressiva e fortalecimento da alma em santidade.
Por meio de nossa presente santificação nossas almas são confirmadas em santidade. Santo foi Adão na criação, mas não foi confirmado em santidade. A natureza progressiva de nossa presente santificação está bem implicada em Heb. 2:11 e 10:14, onde está empregado o particípio presente, que sempre denota ação progressiva.
B. É inteiramente interna
Nossa santificação passada é em parte externa, mas a presente é inteiramente interna.
C. É prática.
Conquanto seja interna, contudo ela se manifesta externamente em vida prática cristã.
D. É experimental
Nossa santificação passada pode ser só muito escuramente experiêncial no tempo em que ela ocorre, mas a presente é definitivamente experiencial. O crente sente e conhece o trabalhar do Espírito no seu coração, fortalecendo-o, transformando-o de graça em graça (2 Cor. 3:18), movendo-o à oração, aos estudo da Bíblia e outros exercícios e atividades cristãs. E esta obra do Espírito no crente é a fonte de sua firmeza. É deste modo que o Espírito testemunha com os nossos espíritos que somos filhos de Deus (Rom. 8:18).
E. É sempre incompleta nesta vida.
A nova vida jamais ganha perfeito controle sobre a natureza carnal; Isto nos leva a considerar:
IV. REFUTADA A DOUTRINA DE PERFEIÇÃO SEM PECADO
Um estudo da doutrina bíblica de santificação não é completo sem uma consideração do ensino que a impecabilidade é inatingível nesta vida. Urgimos sobre o seguinte:
1. OBJEÇÕES A ESTA DOUTRINA
(1). O apóstolo Paulo, a quem Deus estabeleceu como um exemplo humano para crentes (1 Tim. 1:16) e em cuja vida não estamos certos de se ver qualquer falta, não teve, mesmo na velhice, alcançada perfeição impecável.
É isto evidente de Rom. 7:14-24. Absurdo é referir isto a Paulo antes da regeneração. No décimo quarto versículo há significativa mudança do tempo passado para o presente. Fazer os versos além do décimo quarto referir-se à vida de Paulo antes da regeneração é fazer deles uma monstruosidade gramatical. A última parte do verso vigésimo quinto mostra que a vitória sobre o pecado por meio de Jesus Cristo não tem lugar nesta vida. Isto também está patente em Rom. 8:23-25. A vitória vem somente com a redenção do corpo, a qual terá logar na ressurreição.
Outra vez, a linguagem de Rom. 7:14-24 mostra que ela se refere a um homem salvo. “Nenhum homem irregenerado pode verdadeiramente dizer: “Eu consinto com a Lei, que é boa”; “Querer estar presente comigo”; “Porque me deleito na Lei de Deus segundo o homem interior”; “Assim então, com a mente eu mesmo sirvo à Lei de Deus” (Pendleton, Chistian Doctrines, pág. 301).
A idéia que em Rom. 7 temos a experiência de Paulo depois de ter sido salvo, mas antes santificado, enquanto que em Rom. 8 temos sua experiência depois de ter sido santificado, é também absurda. Como temos apontado, o capítulo oitavo de Romanos não ensina a perfeição impecável mais do que o capítulo sétimo. No oitavo Paulo ensina que os crentes ainda gemem debaixo da pecaminosidade do corpo e estão esperando pela sua redenção (vs. 23), sendo salvos pela esperança (vs. 24,25). Toda a prosa do crente: na sua experiência, safando-se do capítulo sétimo de Romanos para o oitavo, não tem sentido. Todo crente vive toda a sua vida em ambos os capítulos, que ambos são só parte de um discurso ligado. “O portanto” do verso 1 do capítulo 8 dirige-nos de volta à última parte do capítulo sétimo como base do que está dito no oitavo.
A epístola aos romanos foi escrita antes da viagem de Paulo a Roma. Depois de ter sido levado a Roma, enquanto prisioneiro lá, escreveu algumas epístolas.Uma delas é a epístola aos filipenses. Nesta epístola Paulo ainda renuncia à perfeição absoluta. Disse ele que não se considerou como já a tendo atingido. Fil. 3:12.
(2). O modelo de oração dado por Cristo aos Seus discípulos implica pecaminosidade contínua por parte do povo salvo.
Como é bem sabido, Cristo ensinou Seus discípulos a confessar os seus pecados na oração modelo. Nem Ele em qualquer tempo ou de qualquer modo insinuou ou implicou que havia um tempo quando eles poderiam apropriadamente dispensar esta confissão do pecado e petição de perdão.
(3). O fato que todos entre os filhos de Deus são castigados por Ele mostra que todos eles pecam (Heb. 12:5-8).
“Se estais sem castigo, do qual todos são feitos participantes, então sois bastardos e não filhos” (Heb. 12:8). Não pode haver castigo sem pecado. Deus podia tratar-nos de um modo providencial, se fossemos perfeitos, mas os Seus tratos não poderiam chamar-se castigo.
(4). Tiago declara que todos pecam.
“Todos nós tropeçamos em muitas coisas” (Tia. 3:2).
(5). João declara que quem professa impecabilidade está enganado.
“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (1 João 1:8). “Nós” – certamente se refere a crentes. E o tempo presente mostra que a passagem se refere, não a uma negação de pecado anterior senão a uma negação de pecado atual. E esta passagem nos diz que os professantes da perfeição impecável estão auto-iludidos. Estão enganados pelo menos sobre quatro coisas, a saber:
A. A natureza da Lei de Deus (a Lei de Cristo – 1 Cor. 9:21) para crentes.
Em vez de verem a Lei de Deus para crentes como um transcrito de Sua santidade, um padrão perfeito de justiça, vêem-na como uma balança móvel que se acomoda à nossa habilidade. “Esta idéia reduz a divina à habilidade do devedor para pagar,- método breve de se desincumbirem obrigações. Posso saltar a torre de uma igreja, se me for permitido fazer uma torre de igreja bem baixa; posso tocar as estrelas, se as estrelas baixarem somente à minha mão.” (Strong).
B. O escôpo do pecado.
Queriam que crêssemos que as transgressões “involuntárias” não são pecados. John Wesley, um dos mais proeminentes advogados da doutrina de perfeição impecável nesta vida , disse: “Creio que uma pessoa cheia do amor de Deus ainda está sujeita a transgressões involuntárias. Tais transgressões podeis chamar pecados, se vos apraz; eu não.”
Meios involuntários: “1. Contrário a vontade ou desejo de alguém. 2. Não sob o controle da vontade.” Como aplicada a atos morais, a palavra deve ter o primeiro sentido. O segundo sentido aplica-se somente a tais coisas como a digestão, o bater do coração e outras funções naturais do corpo. E o significado da vontade ou desejo na primeira definição deve ser entendido no sentido restrito do teor normal da vontade. No sentido lato ninguém nunca age contra sua vontade ou desejo, exceto quando sobrepujado pela força física. Nenhuma pessoa salva quer normalmente zangar-se e falar palavras ferinas; mas, sob sérias provocações, perde-se a calma e diz coisas que não devera ter dito. São estes atos involuntários, segundo o único sentido em que se pode aplicar o termo a atos morais. Portanto, conforme com John Wesley e outros perfeccionistas, estes atos não são pecado. As mesmas coisas poder ser aplicada ao homicídio de Urias por Davi e ao seu adultério com Betséba.
C. O poder da vontade humana.
Afirmar que à vontade, mesmo normalmente, pode escolher a Deus supremamente em qualquer momento, ou é negar a depravação na natureza carnal do homem ou implicar que a vontade é uma adesão externa a natureza do homem antes que uma expressão dela. “Dizer que, o que quer que tenham sido os hábitos do passado e o que quer que sejam as más afeições do presente, está o homem perfeitamente apto a obedecer em qualquer momento à Lei total de Deus, é negar que haja coisas tais como caráter e depravação.” (Strong).
D. Sua própria salvação.
Quando João diz: “a verdade não está em nós”, ele não se refere à verdade abstrata, mas a “verdade do evangelho, trazendo a luz de Deus à alma e assim revelando pecados como a luz solar faz ao pó” (Sawtelle). “A verdade é para ser tomada objetivamente como a verdade divina em Cristo, o princípio absoluto da vida vindo de Deus e recebido no coração” (Lange). Este sentido é confirmado pelo verso 10, que diz: “Se dizemos que não pecamos, fazemo-lo (a Deus) mentiroso e Sua Palavra não está em nós.” Esta passagem repete a verdade do verso 8. “As pessoas supostas como dizendo isto são vistas no ponto quando deveriam estar oferecendo sua confissão – uma confissão de pecado principiando no passado e chegando ao presente; daí, o tempo perfeito” (Sawtelle). E as expressões “a verdade não está em nós” e “Sua Palavra não está em nós” negam o caráter cristão de todo o professante da perfeição impecável. Por estas passagens todos eles estão perdidos.
2. AS ESCRITURAS EXPLICADAS
Assumimos as seguintes passagens da Escritura tidas pelos perfeccionistas impecáveis como prova da sua teoria.
(1). As passagens que falam do crente como sendo “perfeito”
Referimo-nos aqui a semelhantes passagens como Lucas 6:40; 1 Cor. 2:6; 2 Cor. 13:11; Efe. 4:11; Fili. 3:15; Col. 4:12; 2 Tim. 3:17.
A perfeição dessas passagens não é absoluta: é apenas perfeição relativa. Algumas vezes a palavra “perfeito” refere-se só a maturidade cristã em contraste com a fraqueza de criancinhas em Cristo. Algumas vezes quer dizer somente que aqueles a quem descreve estão livres de qualquer falta grave. Assim nos é dito que Noé era um homem justo e perfeito” (Gen. 6:9), ainda mesmo bêbedo (Gen. 9:21). E assim se diz que Jó era perfeito e justo” (Jó 1:1).
O emprego da palavra “perfeito” em Fil. 3:15 lança luz interessante e instrutiva sobre o seu sentido usual na Escritura. No verso 12, como já notamos, Paulo renuncia à perfeição. Então, no verso 15 ele endereça uma exortação à “tantos quantos são perfeitos”. É perfeitamente evidente, então, que no verso 12 ele faz referência à perfeição absoluta, enquanto que no verso 15 ele alude aos que são relativamente perfeitos ou maduros. E a estes ele exorta a “sentir o mesmo”. Por isto ele quer dizer que eles devem renunciar à perfeição absoluta, como ele fez, e prosseguir para coisas mais elevadas. Assim vemos que “perfeito”, a luz do significado costumeiro do termo na Escritura, quando aplicado a crentes, exige que crentes renunciem a perfeição absoluta e todavia prossigam para coisas mais elevadas. O indivíduo que professa perfeição impecável e o que não está prosseguindo para frente não são “perfeitos”.
(2). Mat. 5:48 “Vós, portanto, sede perfeitos, assim como o vosso Pai celeste é perfeito.”
Nesta passagem Jesus firma para os Seus discípulos o ideal de perfeição absoluta. Ele não podia ter firmado nada menos do que isto sem coonestar e encorajar o pecado. Mas não há nada aqui ou em qualquer outro lugar que implique que os seguidores de Cristo ainda alcancem este ideal na carne. De fato, é ímpio afirmar que atingem este ideal, pois a perfeição oferecida é a de Deus mesmo.
(3). 1 Tess. 5:23 “E o Deus de paz mesmo voz santifique em tudo e sejam conservados inteiros vosso espírito e alma e corpo sem mancha na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”
Esta passagem deve ser entendida à luz da própria experiência de Paulo e à luz da Escritura como um todo. Se Paulo orou pela completa santificação dos tessalonicenses nesta vida, então ele orou por algo para eles que ele mesmo não tinha provado, ou então ele perdeu mais tarde sua completa santificação; porque, quando ele escreveu aos romanos muito depois, como temos notado, ele não professou impecabilidade.
A santificação porque Paulo orou para que Deus operasse nos tessalonicenses foi, na verdade, santificação completa, como evidenciado pela palavra grega “holoteles”; mas ele não indica que é para se cumprir nesta vida. A Escritura muito definitivamente condena a noção que Paulo esperou que ela se cumprisse nesta vida. E a menção da vinda de Cristo sugere que ele contemplou o futuro como o tempo quando sua oração estava para ter completa resposta. Paulo orou pelo prosseguimento da santificação progressiva, assim como Cristo orou pelo mesmo para os Seus discípulos (João 17:17), cuja santificação progressiva resultaria em completa santificação na segunda vinda de Cristo.
(4). 1 João 2:4 “Aquele que diz, eu O conheço e não guarda os Seus mandamentos, é um mentiroso e a verdade não está nele.”
Juntamente com esta passagem podemos classificar outras passagens semelhantes tais como João 14:23; Rom. 8:12; 1 João 1:6.
Estas passagens fazem referência ao teor geral da vida cristã. Elas não podem ser tidas como ensinando que quem está salvo guarda os mandamentos de Deus perfeitamente em qualquer momento, porque outras passagens o negam.
O Rio Mississipi proporciona uma excelente ilustração da vida cristã. Se se perguntar a alguém para que direção corre esse rio, responderá que corre na direção sul; mas a matéria de fato é que este rio algumas vezes corre para leste, outras para oeste e algumas vezes mesmo corre numa direção norte. Mas, a despeito destes fatos, prosseguimos dizendo que ele corre para o sul. Assim falamos porque consideramos o rio como um todo. Vemos o alvo principal do rio. Assim é com a vida cristã. Quando é vista como um todo, ou quanto ao seu alvo principal, percebe-se que é uma vida de justiça; mas a caudal, quanto ao seu alvo não é tão rápida perto das margens como é no centro. E nunca conservará sempre sua direção usual: baterá em obstruções que a desviarão temporariamente, mas de novo assumirá o seu curso normal no futuro.
(5). 1 João 1:7 “O sangue de Jesus Cristo seu Filho purifica-nos de todo pecado.”
Alguns têm a idéia que esta passagem quer dizer que o sangue de Jesus Cristo faz-nos impecáveis quanto a estado. Mas não é assim. O sangue de Jesus Cristo purifica-nos somente quanto à nossa posição perante Deus. Esta passagem faz referência á justificação e santificação legais, mas não à santificação progressiva e prática.
A necessidade de purificação constante da contaminação recorrente foi ensinada por Jesus quando Ele lavou os pés dos Seus discípulos. Ele disse: “O que está banhado não necessita senão de lavar seus pés, que o mais está todo limpo.” (João 13:10). O restante dessa passagem “estais limpos, mas não todos”, o qual está explicado no verso seguinte como querendo dizer: “Não estais todos limpos”, referindo-se a Judas, mostra que Jesus estava tirando uma analogia entre a purificação física e a purificação espiritual. Tanto como quem toma banho não precisaria de lavar-se outra vez, mas de limpar-se do pé nos pés, assim quem se banhou no sangue de Cristo não o repetirá mas, não obstante, estará na necessidade diária de se purificar da contaminação que se lhe adere no seu contato com o mundo. Ele “está todo limpo” quanto à sua posição perante Deus, mas na precisão de confissão e perdão diários para que mantenham comunhão com Deus.
(6). 1 João 3:9 “Quem é nascido de Deus não peca, porque Sua (de Deus) semente permanece nele; não pode pecar porque é nascido de Deus.”
A respeito dessa passagem, temos o seguinte a dizer:
A. Ela se refere ao padrão atual do viver cristão e não a um mero padrão ideal.
A passagem fala do que é realmente o cristão na sua conduta e não meramente de o que devera ser. Isto é evidente do verso seguinte, que diz: “Nisto (isto é, na sua inabilidade para pecar) os filhos de Deus são manifestos e os filhos do diabo.”
B. Ela se refere ao homem inteiro e não meramente à nova natureza.
É evidente que a “semente” nesta passagem se refere à nova natureza. O grego aqui é “sperma”. Está usada quarenta e quatro vezes no Novo Testamento, significando quarenta e uma vezes, não semente de plantio, mas progênie, descendências. Quando a Palavra de Deus é chamada “semente”, o grego não tem “sperma”, mas “spora” ou “sporos”. Vide Lucas 8:11; 1 Ped. 1:23.
Outra objeção de peso à idéia que “semente” representa aqui a Palavra de Deus e o “Qualquer que” a nova natureza, é que não é a Palavra de Deus que faz impossível a nova natureza pecar. É a qualidade da nova natureza que faz isto impossível. Se a nova natureza fosse pecaminosa, então a Palavra de Deus não impediria que ela pecasse mais do que impede a carne de pecar.
Thayer faz “semente” nesta passagem referir-se a energia divina do Espírito Santo operando na alma, pela qual somos regenerados. Mas isto é uma interpretação puramente arbitrária. Não temos razão para crermos que tanto o Espírito Santo como Sua energia são referidos ainda como “sperma”.
Portanto, tomando a “semente” como se referindo a nova natureza, necessariamente interpretamos “qualquer que” como se referindo ao homem inteiro; porque é “ele”, o homem inteiro, em quem a “semente”, a nova natureza, permanece, que não pode pecar.
C. Ela afirma, não que uma pessoa regenerada não pode cometer um só pecado, mas que ela não pode seguir um curso contínuo de pecado; não pode viver em pecado.
Adotamos esta interpretação desta passagem pelas seguintes razões:
(a). É a única idéia que está em harmonia com o texto. Está manifesto pelo contexto, como já foi observado, que João falava daquilo que é exterior e atual, algo que faz uma diferença manifesta em si e de si. Então, também, esta passagem evidentemente quer dizer a mesma coisa como os versos seis e oito e, se possível, são menos favoráveis as outras interpretações.
(b). Enquanto é verdade que o homem todo não é nascido de Deus, todavia, em passagens gerais tais como a que ora se considera a Escritura não faz distinção entre as duas naturezas do crente, mas frouxamente se refere ao homem como um todo. Diz a Escritura: “Exceto UM seja nascido de novo” e não “exceto um tenha uma nova vida nascida com ele”; “se alguém está em Cristo, ELE é uma nova criatura”; não “ele tem uma nova criatura nele”; “vivificou-NOS com Cristo”, não “vivificou uma nova vida dentro de nós”; “ele nos gerou pela Palavra da verdade”, não “ele gerou algo dentro de nós pela Palavra da verdade.”
(c). é a única idéia que toma conta do presente infinitivo “pecar” (grego- “harmartanein”) na última parte da passagem. O infinitivo presente sempre significa ação durativa, linear, progressiva – ação em sua duração continuativa. Por causa deste sentido do infinitivo grego, Weymouth traduz a passagem: “Ninguém que é um filho de Deus está habitualmente culpado de pecado. Um germe dado de Deus, de vida, fica nele e ele não pode pecar habitualmente”. E Sawtelle explica “não faz pecado”, como significando: “Não o faz como a Lei de sua vida, como a tendência do seu ser; não pertence à esfera do pecado.”
D. Notem os perfeccionistas impecáveis os seguintes fatos sobre esta passagem:
(a). Sua afirmação aplica-se a toda gente salva; não apenas a alguns que alcançaram um suposto plano elevado de vida. Assim esta passagem mata a teoria da “segunda benção”. A passagem esta falando sobre o que o crente é em virtude da regeneração, não o que ele é em virtude de uma suposta “segunda obra de graça”.
(b) A passagem referida afirma que o caráter referido não pode pecar. Assim, segundo sua própria teoria, teriam de interpretar a passagem como ensinando que um que alcançou a impecabilidade não pode nunca reincidir em pecado. Isto eles não admitirão. Assim mostram que seu único interesse nesta passagem é acalentar sua heresia ignorante e sem sentido.
V. OS FRUTOS DA SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA.
Pensamos bom aqui alistar quatro coisas que J. M. Pendleton, em “Christians Doctrines” dá como evidências ou frutos das influências graciosas do Espírito Santo em nosso santificação progressiva.
1. UMA NOÇÃO PROFUNDA DE DESVALIA
Nenhuma pessoa em quem o Espírito Santo fez qualquer obra considerável tem qualquer disposição para envaidecer-se de sua bondade. Para exemplos da noção de desvalia da parte dos santos de Deus, vide Jó 38:1,2; 40:4; 42:5,6; Efe. 3:8; Isa. 6. Também Fil. 3:12-15.
2. UM ÓDIO CRESCENTE AO PECADO
Nenhuma pessoa salva ama o pecado; isto é, o amor ao pecado não é o afeto dominante de sua vida. Os pecados que ela comete não são o resultado de um amor normalmente dominante ao pecado senão de um levante ocasional da carne ou da fricção constante entre a carne e o Espírito.
3. UM INTERESSE CRESCENTE NOS MEIOS DE GRAÇA
Quanto mais o Espírito Santo obra numa pessoa, tanto mais ela aprecia a Palavra de Deus, a oração, o culto e o demais; e mais ela se avantaja dos benefícios de tais atos.
4. UM AMOR EM AUMENTO DAS COISAS CELESTIAIS
Este amor substitui o primeiro amor pelo pecado e faz o filho de Deus buscar aquelas coisas que são de cima.
Todos destes frutos do processo santificante impedem o fato que não se pode atingir a impecância nesta vida por encorajar-se o pecado. A presença do pecado na vida do cristão não lhe proporciona nenhuma consolação; pelo contrário, proporciona-lhe pesar. Ele quisera estar livre do seu peso terreno e elevar-se aos cimos de Deus para que sua alma pudesse aquecer-se no sol de justiça. Toda pessoa salva pode dizer com Paulo: “Desgraçado homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte” (Rom. 7:24). Ele deseja que fosse sem pecado, mas está indisposto a violentar a Escritura e praticar a auto decepção para fingir que está sem pecado. O seu próprio desejo de impecabilidade impede-o de praticar a hipocrisia, de perpetrar um engodo como todos os perfeccionistas impecáveis fazem.
Autor: Thomas Paul Simmons, D.Th.
Digitalização: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos, 2004
Revisão: Luis Antonio dos Santos – 10/12/05
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